«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Dar a ver

A propósito de Au Hasard Balthazar, já me interroguei várias vezes se a ideia para o filme não terá surgido devido a um pormenor da tela Repouso Durante a Fuga para o Egipto, de Caravaggio.
Na famosa entrevista de Godard e de Delahaye, Bresson diz, a certa altura:
«[…] o ponto de partida foi uma visão fulminante de um filme em que o burro seria a personagem central.», «A ideia nasceu, talvez, plasticamente. Pois eu sou pintor. Uma cabeça de burro parece-me, a mim, algo de admirável. O plástico, sem dúvida. Pois, de repente, julguei ver o filme.».


A ligação com um passo de O Idiota, de Dostoievski, terá sido posterior, relacionando-se com o mecanismo formal de dar a ver através do ponto de vista deste animal. Falando sobre o livro de Dostoievski, Bresson considera «admirável» a ideia de «fazer ensinar um idiota através de um animal, que passa por idiota mas é de uma inteligência…», «Magnífica essa ideia de fazer dizer ao idiota, ao ver o burro e ao ouvi-lo zurrar: Aí está! Compreendi!…».

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