«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Filmes 2009







Dos filmes que vi este ano, são estes que recordo com mais prazer, por ordem vagamente cronológica.

CINEMATECA, CICLOS, FESTIVAIS
Os Inúteis, Fellini
Ensaio de um Crime, Buñuel
Une Partie en Campagne, Renoir
La Chienne, Renoir
Daguerréotypes, Agnès Varda
L' annonce faite à Marie, Alain Cuny
Na Presença de um Palhaço, Bergman
La Chambre Verte, Truffaut
La Vie des Morts, Desplechin
Comment je me suis disputé ma vie sexuelle, Desplechin

DVD
A Mulher do Aviador, Rohmer
O Raio Verde, Rohmer
Stardust Memories, Woody Allen

CIRCUITO COMERCIAL
Vicky Christina Barcelona, Woody Allen
Revolutionary Road, Sam Mendes
Happy-go-lucky, Mike Leigh
O Canto dos Pássaros, Albert Serra
A Mulher sem Cabeça, Lucrecia Martel
Conto de Natal, Desplechin
Home, Ursula Meier
The Limits of Control, Jim Jarmusch
35 Shots de Rum, Claire Denis



Entre os filmes que estrearam em sala, o meu preferido foi o de Jim Jarmusch. (Ainda não foi desta que James Gray me convenceu.)
Renoir e Buñuel, maravilhosos como sempre.
Quem me conhece sabe que não perco uma oportunidade para dizer mal de Ingmar Bergman, mas o filme que aparece na lista é mesmo muito bom.
Por falta de tempo livre, vi menos filmes em DVD do que noutros anos. Esperemos que 2010 seja diferente.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Livros 2009

Para registo pessoal e para quem se interessa por estas coisas, estes são os livros que mais gostei de ler durante 2009. (Olhando para a lista, será evidente que não sou grande seguidora de saídas recentes.)


Este ano, um pouco por acaso, li bastantes livros escritos por mulheres.
Apesar de The Children's Book me parecer um romance falhado (se dependesse de mim, A. S. Byatt só escreveria contos), tem momentos impressionantes e é difícil de esquecer.
Graças ao Booker Prize, descobri a Hilary Mantel, de quem li dois livros maravilhosos; felizmente é uma escritora com uma obra já relativamente extensa, pelo que prevejo um prolongamento de prazer em 2010.
Não sei como foi possível, mas só recentemente me interessei por Muriel Spark. Devorei quatro romances quase de seguida (em cima, destaco três) e não vou ficar por aqui.
No livro The Passion, de Jeanette Winterson, estão algumas das mais belas frases que li este ano.
Dos quatro livros de Julian Barnes que fui lendo, chamo atenção para a secção «Shipwreck», um extraordinário texto inspirado por O Naufrágio da Medusa, de Géricault, no livro A History of the World in 10 ½ Chapters.
Destaque absoluto para Peter Carey, autor dos dois melhores romances que li este ano.


Dos livros que li por motivos profissionais, destaco os seguintes três ensaios.



Noutros tempos, fui uma grande leitora de literatura portuguesa e brasileira. É possível que qualquer dia volte a ser (espero). Este ano, no entanto, do princípio ao fim só li três volumezitos (e não gostei lá muito do último): Deixem Passar o Homem Invisível, de Rui Cardoso Martins, Mais Espesso que a Água, de Luís Quintais, e Estorvo, de Chico Buarque.


Para o ano há mais.


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Coisas fechadas


Se deixarmos a única chave de alguma coisa lá dentro, para entrar, será necessário arrombar a porta, provavelmente acordar os vizinhos e martelar pelo menos até às duas da manhã.


Animais selvagens, animais domésticos

Passaporte de Virginia Woolf, 1923


1924, um ano antes da publicação de Mrs. Dalloway



Capa de Vanessa Bell para a primeira edição (Hogarth Press, 1929)


Única gravação conhecida da voz de Virginia Woolf. Transmissão radiofónica da BBC de 29 de Abril de 1937. O texto, transcrito aqui, foi posteriormente publicado no livro The Death of the Moth and Other Essays (1942).


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sherlock Holmes e a leitura


É preciso reconhecer, ainda que com alguma pena, que o livro de memórias de Arthur Conan Doyle não é de leitura entusiasmante.
A dada altura, no entanto, o autor diz uma coisa interessante quando explica como escrevia as histórias de Sherlock Holmes:


«People have often asked me whether I knew the end of a Holmes story before I started it. Of course I did. One cannot possibly steer a course if one didn't know one's destination. The first thing is to get your idea. Having got that idea one's next task is to conceal it and lay emphasis upon everything which can make for a different explanation. Holmes, however, can see all the fallacies of the alternatives, and arrives more or less dramatically at the true solution by steps which he can describe and justify.»

Memories and Adventures, Sir Arthur Conan Doyle, Wordsworth, pp. 90-91


Por surpreendente que isto seja num autor de histórias de detectives, Conan Doyle propõe aqui noções de texto e de leitura simetricamente opostas às daqueles que defendem que um texto literário contém informação e que ler consiste em extraí-la.
Para o criador de Sherlock Holmes, escrever é só uma manobra de diversão: «Having got that idea one's next task is to conceal it and lay emphasis upon everything which can make for a different explanation.» O texto, em vez de fornecer informação importante, contém elementos desprovidos de significado e de carácter decisivo para a compreensão da narrativa e a resolução do crime. Ler não é extrair nem decifrar informação. É só ser distraído.


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Agosto 2009











«It's nothing to do with my feelings about anything. I know that, as a general principle, I avoid myself. And then, you find that you've met yourself because you go around and around.»

A. S. Byatt


sexta-feira, 17 de julho de 2009

O cinema italiano e eu

Eu costumava embirrar um bocado com Fellini, mas este ano já vi três filmes maravilhosos deste realizador: Os Inúteis, Palhaços e Roma.
Em Roma, em particular, é interessante constatar como o riso pode conviver com algumas das sequências simultaneamente mais tenebrosas e mais belas que já vi em cinema: o trânsito nos acessos a Roma, a construção dos túneis de metro com a descoberta dos frescos, as cenas nos bordéis, a sequência do desfile de moda eclesiástica.
Ao contrário do que julgava, Fellini é tudo menos decorativo. Há poucos realizadores com filmes em que a morte e a vida estejam tão bem entrelaçados.


Deceive inveigle obfuscate

O Michael Jackson que mais me interessa continua a ser o dos Jackson Five.
Há ali alguém a quem explicaram que só mereceria amor se fizesse o que lhe dissessem.
Este Michael Jackson ainda não descobriu que para os que são incapazes de amor incondicional mesmo o amor condicional é improvável. Os gestos e movimentos executando cuidadosamente coreografias e instruções denunciam a vontade absurda de lutar por esse amor mal prometido. Mesmo mascarado, este menino tudo faz para agradar.
O Michael Jackson que vem a seguir é muito mais cínico e desencantado. Parece desprovido de centro.


quinta-feira, 25 de junho de 2009

Work in progress

David

No Alphaville, de Godard, Anna Karina lê Paul Éluard.

No filme Splendor in the Grass, de Elia Kazan, são lidos alguns versos do poema de Wordsworth Ode on Intimations of Immortality») que inspira o próprio título do filme. (Por sua vez, o filme inspirou um poema de Ruy Belo.)

No fim do filme In her shoes (Na sua Pele), de Curtis Hanson, Cameron Diaz lê o poema «One art», de Elizabeth Bishop. (A personagem é disléxica e conseguir ler este poema é uma grande vitória para ela.)

No filme Seven, de David Fincher, os detectives chegam ao assassino através de uma lista de pessoas que requisitaram certos livros nas bibliotecas. Se não me engano, um desses livros é a Divina Comédia, de Dante.

Neste caso, não é um poema, mas um romance que tem um papel importante no enredo de um filme (conta comigo para ignorar as regras): em A Teoria da Conspiração, de Richard Donner, o protagonista, já não sei bem porquê, é totalmente obcecado pelo livro The Catcher in the Rye, de J. D. Salinger, de que passa a vida a comprar novos exemplares.


quarta-feira, 17 de junho de 2009

Curtas de Verão

No Verão é melhor um livro grande



Ninguém me perguntou nada, mas tenho visto nas livrarias a tradução portuguesa do Oscar and Lucinda, de Peter Carey (Dom Quixote), que li há pouco tempo, e recomendo vivamente. É um romance com dois protagonistas absolutamente singulares (que, por acaso, são ambos jogadores inveterados), e uma intriga cheia de aventuras e reviravoltas, entre as quais se destaca o transporte de uma igreja de vidro através da selva australiana.
[De momento, não vamos falar dos livros grandes que tenho na estante e ainda não li.]


Chás que pareceram boa ideia



A sugestão é não comprar.
(Há quem goste, no entanto.)



Máximas estivais

«He would deal with each problem as it came up or he would die.»
(Misery, Stephen King, p. 87)


The Pedant in the Kitchen



Para maior impacto hiperbólico, cito de um livro de receitas de sopas:
«A mais monótona das sopas pode ganhar nova vida se lhe forem acrescentados pequenos detalhes capazes de lhe conferir um toque de magia e um gostinho inesquecível.»

Em cada canja, uma folhinha de hortelã.


Arquivo do blogue