«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

domingo, 25 de novembro de 2007

Boa tarde a todos, amigos e inimigos

Scénario du film Passion, no Museu do Chiado. Segunda vez. Em que Godard explica que a escrita foi inventada não pelos escritores mas pelos comerciantes, para fazerem o registo de compras e vendas. Três quilos e meio de ameixas, dois quilos de cenouras. Que a escrita do argumento, neste sentido, pertence ao domínio da contabilidade. O contabilista anota: uma personagem feminina, uma personagem masculina, e por aí adiante.

Godard não quis começar por escrever o argumento de Passion; preferiu vê-lo antes de o filmar, para ter a certeza prévia de que o filme existia.
A partir de imagens de alguns pintores (Delacroix, Tintoretto, Goya), uma possibilidade: talvez haja uma relação entre os gestos do trabalho, os gestos dos operários, e os gestos do amor.
A história começou a desenhar-se no vaivém entre a investigação dos gestos cumpridos numa fábrica e as mãos de uma tela de Tintoretto, enquanto Godard ficava na sombra, à espreita do som, à espreita da linguagem.
Trabalho, amor, cinema.
Quando, no argumento, a personagem do realizador reconheceu que não conseguia encontrar uma história para o filme que queria fazer, apesar de haver cinquenta histórias à sua volta, Godard deu o argumento por terminado.
«As pessoas têm coragem para viver histórias, mas não têm coragem para as inventar. É para isso que aqui estou

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