Num dia destes, um pouco por acaso, veio-me ter às mãos um Best of dos Simon & Garfunkel, que comecei a ouvir distraidamente enquanto fazia outras coisas. Pelo menos até à canção Scarborough Fair, que não me lembrava de ter ouvido antes.
No início, nem sequer estava a perceber as palavras. O ritmo e a referência à feira levaram-me imediatamente a imaginar a névoa antes da manhã, preparativos dos vendedores organizando tudo antes dos primeiros clientes, frio, palavras de circunstância, chegadas iminentes, expectativa. Parsley, sage, rosemary and thyme?
Ainda estava a tentar recuperar da surpresa de isto ter sido escrito nos anos sessenta quando descobri que a canção dos Simon & Garfunkel se baseia numa balada inglesa com origem medieval.
A letra conta a história de alguém que recorda um amor antigo perante um ouvinte que vai à feira de Scarborough, pedindo-lhe para lhe dar um recado, se vir aquela que tanto amou noutros tempos. O que recorda diz que volta a aceitar a amada se ela realizar uma série de tarefas impossíveis: fazer uma camisa sem costuras, lavá-la num poço seco, encontrar um terreno seco entre o mar e o leito de areia, etc. Realizar estas tarefas impossíveis é a prova de amor que ele lhe exige. Mas se as tarefas são impossíveis, pode este amor alguma vez ser provado? (A questão da prova, da demonstração, interessa-me bastante. Poderão todas as coisas verdadeiras ser demonstradas?)
Muita gente já tentou decifrar o simbolismo dos elementos do refrão.
A salsa (parsley) era (e ainda hoje é) usada como auxiliar da digestão, contra os amargos de boca. A salva (sage) simbolizaria força e a resistência. O rosmaninho (rosemary) representaria fidelidade, amor e persistência da memória: em certos países, ainda hoje há o costume de as noivas levaram rosmaninho no cabelo no dia do casamento. O tomilho (thyme) seria um símbolo de coragem: certos cavaleiros traziam nos escudos a imagem do tomilho.
Contudo, há também quem lembre que estas ervas têm propriedades abortivas, pelo que este refrão pode ter sido usado como uma espécie de mnemónica desses fins.
Entretanto, fiquei também a saber que, antes da versão dos Simon & Garfunkel, já Bob Dylan tinha reparado nesta balada, inspirando-se nela para escrever e compor Girl from the North Country, que acho que também nunca tinha ouvido, mas ainda bem que já ouvi.