«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Livros em 2016


É possível ver aqui a maioria dos livros que li em 2016. (Nota: o Goodreads não sabe tudo sobre mim.) A seguir destaco não necessariamente os títulos de que mais gostei, mas aqueles que tenho mais vontade de partilhar e recordar.





Só este ano prestei atenção a Alice Oswald, poeta, classicista e jardineira [uma entrevista elucidativa num podcast que costumo ouvir]. Esta autora costuma ser valorizada pela sua associação a formas épicas, mas prefiro os poemas mais curtos, relacionados com episódios ou questões menores. Gosto muito da atenção com que descreve as possibilidades poéticas da água.
 

 





Já tinha lido um livro de Renee Gladman, porém Ana Patova Crosses a Bridge, o terceiro volume de uma trilogia dedicada à cidade de Ravicka, uma meditação sobre uma cidade em crise (não se percebe bem se financeira) e as consequências desta crise na linguagem e nos percursos dos seus habitantes, é o meu livro preferido dela. Estava esquecido algures na pilha de livros para ler, mas a saída de Calamities, sem dúvida um dos livros mais memoráveis que li este ano, recordou-me a sua existência. Renee Gladman escreve em prosa, arrumo os livros dela nas estantes de poesia, mas não destoariam na secção de arquitectura.

 
 
 
«The crisis came out of its originary moment making numerous, slow, overlapping circles around the city until every building and every inhabitant was floundering in its enclosure. The crisis wore a T-shirt to the market and handed out flyers about climate change and asbestos; the crisis put bugs in your bed; it added periods to your sentences, so that you spoke plain and without invention. […] The crisis made me give up architecture, drawing up plans for buildings, and sat me roughly in this chair from which I did not leave for years. It was ten years, the despair, and it was five days, and it was your childhood, and the time it took to cross a bridge […]. I went on excursions to find the words the crisis had removed from me, my sentences that the crisis sent on circuitous routes through every part of the city and dropped on people’s heads, in crevices along the harbor, on the floors of banks, and made me go to them and made me sit there.» (pp. 18-19)






Dois livros inspiradores sobre arte. Nem sempre se concorda com o que é defendido, mas os textos que ajudam a pensar são raros e é preciso prestar-lhes atenção e protegê-los.







Dois autores muito diferentes, um líbio e outro chileno, que justificadamente deram que falar nas listas de fim de ano (Hisham Matar nas listas de 2016, Zambra nas listas de 2015).

The Return é uma meditação sobre a memória, as ligações familiares e a noção de desaparecimento. Por ter uma componente política muito forte relacionada com a história da Líbia, provavelmente não o teria encontrado se não me tivesse vindo parar às mãos um pouco por acaso, mas quando somos conquistados por um livro com assuntos que à partida evitaríamos, não há que duvidar.

Em Mis Documentos, de Alejandro Zambra, gostei principalmente das idiossincrasias e do sentido de humor da voz que narra.


 

A facilidade com que se encontra fotografias de Alejandro Zambra com gatos é um factor de simpatia acrescida.
 


Por último, no fim de 2016, três boas notícias: em 2017 serão publicados um livro de memórias e uma antologia dos contos de Leonora Carrington (graças às editoras New York Review Books e Dorothy, a Publishing Project, respectivamente); além disso, Maira Kalman prepara um livro sobre a New York Public Library. Aguardemos com impaciência.á há


 
 



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