É possível ver aqui a maioria dos livros
que li em 2016. (Nota: o Goodreads não sabe tudo sobre mim.) A seguir destaco não necessariamente os títulos de que mais
gostei, mas aqueles que tenho mais vontade de partilhar e recordar.
Só este
ano prestei atenção a Alice Oswald, poeta, classicista e jardineira [uma entrevista elucidativa num podcast que costumo ouvir]. Esta autora costuma ser
valorizada pela sua associação a formas épicas, mas prefiro os poemas mais
curtos, relacionados com episódios ou questões menores. Gosto muito da atenção
com que descreve as possibilidades poéticas da água.
Já tinha lido um livro de Renee Gladman,
porém Ana Patova Crosses a Bridge, o
terceiro volume de uma trilogia dedicada à cidade de Ravicka, uma meditação
sobre uma cidade em crise (não se percebe bem se financeira) e as consequências desta crise na
linguagem e nos percursos dos seus habitantes, é o meu livro preferido dela.
Estava esquecido algures na pilha de livros para ler, mas a saída de Calamities, sem dúvida um dos livros mais memoráveis que li este ano, recordou-me a sua existência.
Renee Gladman escreve em prosa, arrumo os livros dela nas estantes de poesia,
mas não destoariam na secção de arquitectura.
«The
crisis came out of its originary moment making numerous, slow, overlapping
circles around the city until every building and every inhabitant was
floundering in its enclosure. The crisis wore a T-shirt to the market and
handed out flyers about climate change and asbestos; the crisis put bugs in
your bed; it added periods to your sentences, so that you spoke plain and
without invention. […] The crisis made me give up architecture, drawing up
plans for buildings, and sat me roughly in this chair from which I did not
leave for years. It was ten years, the despair, and it was five days, and it
was your childhood, and the time it took to cross a bridge […]. I went on
excursions to find the words the crisis had removed from me, my sentences that
the crisis sent on circuitous routes through every part of the city and dropped
on people’s heads, in crevices along the harbor, on the floors of banks, and
made me go to them and made me sit there.» (pp. 18-19)
Dois
livros inspiradores sobre arte. Nem sempre se concorda com o que é
defendido, mas os textos que ajudam a pensar são raros e é preciso prestar-lhes atenção e protegê-los.
Dois
autores muito diferentes, um líbio e outro chileno, que justificadamente deram
que falar nas listas de fim de ano (Hisham Matar nas listas de 2016, Zambra nas
listas de 2015).
The Return é uma meditação sobre a memória, as
ligações familiares e a noção de desaparecimento. Por ter uma componente
política muito forte relacionada com a história da Líbia, provavelmente não o
teria encontrado se não me tivesse vindo parar às mãos um pouco por acaso, mas quando
somos conquistados por um livro com assuntos que à partida evitaríamos, não há
que duvidar.
Em Mis Documentos, de Alejandro Zambra,
gostei principalmente das idiossincrasias e do sentido de humor da voz que
narra.
A facilidade com que se encontra
fotografias de Alejandro Zambra com gatos é um factor de simpatia acrescida.
Por
último, no fim de 2016, três boas notícias: em 2017 serão publicados um livro
de memórias e uma antologia dos contos de Leonora Carrington (graças às editoras
New York Review Books e Dorothy, a Publishing Project, respectivamente); além
disso, Maira Kalman prepara um livro sobre a New York Public Library. Aguardemos
com impaciência.