«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Filmes que fogem, filmes de que não se consegue escapar

Por entre os mais que vistos filmes com Brad Pitt e Harrison Ford com que a Cinemateca vai em Fevereiro ocupar espaço válido em que poderia passar títulos mais difíceis de ver quer em DVD, quer em salas do circuito comercial (vide estranho ciclo intitulado Divos às matinées), destaque para a retrospectiva Bresson, que será apresentada durante Fevereiro e Março, em articulação com uma exposição de Rui Chafes e um livro que João Miguel Fernandes Jorge escreveu a partir dos filmes do realizador francês.
A 25 de Fevereiro teremos oportunidade de ver o esquivo Les Affaires Publiques, filme realizado em 1934, mas dado como desaparecido até 1986, quando, por acaso, foi encontrada uma cópia na Cinemateca Francesa disfarçada sob um título diferente (Beby Inaugure - sendo Beby o nome do palhaço protagonista).
Em Março, também a não perder, pelo menos por mim, será Quatro Noites de um Sonhador, para além de Les Affaires Publiques, o único filme que me falta ver de Bresson. Este filme de 1971 que há muito procuro por todo o lado é inspirado pela novela Noites Brancas, de Dostoiévski, a tal em que as personagens falam como se estivessem a ler livros.
Aguardemos, portanto, com tranquilidade.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Aquisições de fim-de-semana

Hoje em dia vamos às livrarias e ficamos quase sempre com a sensação de que as editoras portuguesas andam praticamente todas a publicar o mesmo tipo de livro sem interesse. No sábado, contudo, encontrei na Letra Livre duas curiosidades de outros tempos: Aventuras do Trinca-Fortes - Pequena história de Camões e do seu poema, de Adolfo Simões Müller, com ilustrações de Júlio Resende, e Dicionário de Milagres, de Eça de Queirós.

Simpatizo imenso com textos que ficcionam episódios da vida de escritores, mesmo quando contados às criancinhas. Não se publica o suficiente sobre este tema.
(Um dos meus textos preferidos em língua portuguesa tem uma inspiração semelhante. Intitula-se «Super Flumina Babylonis» e gira em torno daquele que poderia ter sido o dia em que Camões começou a escrever «Sôbolos rios que vão por Babilónia». Por acaso, o conto de Jorge de Sena está online: é aproveitar.)





Quanto ao Dicionário de Milagres, parece-me um livro delicioso. Não sendo francamente tranquilizador quanto à autenticidade do texto publicado, o posfácio de Luiz Pacheco
(«Não se trata de uma edição crítica, muito menos de uma edição erudita ou apologética. Procurou-se, isso sim, facilitar ao leitor de 1980 o contacto com um texto, emendando gralhas evidentes e, em tal tarefa, muito ajudados fomos por uma cópia dactilografada do sr. Onair de Carvalho, tio do Poeta António Manuel Couto Viana, que no Porto, decerto na Biblioteca Nacional, amorosa e pacientemente copiou o livro todo e anotou-o […]») como que aponta, de certo modo, para a possibilidade de haver no livro um ou outro milagre de índole ligeiramente neo-abjeccionista.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Links selvagens e domésticos


Colecção de mãos
Wash your hands with hands: que conceito magnífico. Mãos de sabonete, vagamente sinistras, feitas de glicerina e leite de cabra, todas elas com cores e formatos diferentes.

2009, ano para ouvir
Se quiséssemos guardar um registo dos sons mais importantes para nós, quais seriam aqueles que cada um gravaria?
Um artista americano quis descobrir e tomou a decisão de gravar em 2009 um som por dia para colocar no blogue. Para já temos, entre outros: neve a derreter, um ribeiro a correr, areia numa praia havaiana, o interior da Grand Central Station. Alguns, como o do dia 22 - o gato Pixel dormindo ruidosamente sobre a secretária - são perfeitamente irresistíveis.

Not for the tender-hearted
Para quem quiser dar uma vista de olhos e ficar indignado (a reacção habitual), a minha tese está online.

Terrible am I child?
Não perceber patavina da letra é sempre um dos factores mais decisivos. Para acabar finalmente com o ano passado, uma das canções de 2008 que mais ouvi em repeat.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Yoknapatawpha

Certamente devido a uma inusitada conjunção astral, prevê-se que o próximo sábado em Lisboa se revele extremamente favorável a faulknerianos convictos (não é o meu caso, devo salientar).
Às 19.00 passa na Cinemateca o filme Southerner, de Jean Renoir, em cujos diálogos o autor americano teve uma colaboração (não creditada).
Como o filme de Renoir tem 87 minutos de duração, é possível assistir, pouco depois, na Culturgest, à sessão das 21.30 da peça The Sound and the Fury (April Seventh, 1928), espectáculo inspirado pela primeira secção do famoso romance de William Faulkner, da responsabilidade da companhia Elevator Repair Service.

(À laia de preparação para esse dia invulgar e provavelmente difícil, sugiro a leitura de alguns excertos da entrevista ao escritor publicada no vol. 2 de The Paris Review Interviews: nunca se consegue perceber muito bem se Faulkner está a gozar ou se acredita mesmo no que está a dizer.)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Animais domésticos


Uma definição de casa entre a de Naipaul (numa entrevista ao DN quando esteve em Portugal) - casa é onde o nosso gato está - e a de Manoel de Oliveira (em conversa com Antoine de Baecque e Jacques Parsi publicada num volume da Campo das Letras) - casa é o sítio onde não se é espectador.


O que tem de ser tem muita força


Gosto imenso desta fotografia de Julian Barnes que encontrei na edição de The Lemon Table que agora ando a ler. Da boca fechada, das rugas entre os olhos porque os olhos não fixam a objectiva mas qualquer outra coisa ao lado. É todo um modo de vida este ar «Querer, não quero. Mas se tem mesmo de ser, que seja.».


«Among the Chinese, the lemon is the symbol of death. That poem by Anna Maria Lengren – ‘Buried with a lemon in his hand.’. A. would try to forbid it on grounds of morbidity. But who is allowed to be morbid, if not a corpse?»

(Do conto «The silence, p. 207)


Teatro

Uma actriz tão nervosa, tão nervosa, que aparece no palco num acto em que a sua personagem não é sequer referida.
E os outros actores não sabem o que lhe hão-de fazer.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

2008 em livros e filmes

Para registo pessoal e para quem se interessa por estas coisas, os livros e filmes do ano passado que recordo com mais prazer. (A ordem é meramente cronológica.)

LIVROS

Dos seis romances de Charles Dickens que li, gostei mais de Our Mutual Friend, Great Expectations e A Tale of Two Cities.
Para além de Dickens:
- A Saga de Gösta Berling, Selma Lagerlöf;
- Gente Independente, Halldór Laxness;
- The Gathering, Anne Enright;
- The Complete Stories, Flannery O’Connor;
- Collected Stories, John Cheever.


FILMES

Circuito comercial
- Lust, Caution, Ang Lee;
- Luz Silenciosa, Carlos Reygadas;
- Nightwatching, Peter Greenaway;
- No Country for Old Men, Irmãos Coen.

DVD
- Honra de Cavalaria, Albert Serra;
- Tristana, Buñuel;
- Nachmittag, Angela Schanelek;
- Margot at the Wedding, Noah Baumbach;
- Ne touchez pas la hache, Rivette.

Cinemateca
- Broken Blossoms / True Heart Susie, D. W. Griffith;
- L’amour fou / L’amour par terre, Rivette;
- A Imperatriz Vermelha, Sternberg;
- À Beira do Mar Azul, Boris Barnett;
- The Wind, V. Sjöström;
- Le genou d’Artemide / L’itinéraire de Jean Bricard, Straub;
- The River / La fille de l’eau, Jean Renoir.

Totalmente decepcionantes
- Darjeeling Limited, Wes Anderson;
- Segunda Juventude, F. Coppola;
- Expiação, Joe Wright.

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