«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Certas questões teóricas e argumentativas

Para me distrair de certas questões teóricas e argumentativas que ameaçam tomar conta de toda a minha vida mental e suprimir a minha vida física, constatei que há duas actividades bastante eficientes.
Por um lado, ler livros com muitas páginas e intrigas cheias de coincidências e inverosimilhanças. Depois do excelente Mammoth Book of Ghost Stories, estou quase a acabar o meu segundo Dickens (Our Mutual Friend). E ainda bem que Dickens foi um escritor prolífico e tem pelo menos uma biografia gigantesca (obrigada, Peter Ackroyd), pois sinto que vou precisar muito dele nos próximos tempos.
Por outro lado, estudar e executar receitas de sobremesas complexas e morosas. No passado fim-de-semana, por exemplo, aprendi a fazer: tarte de requeijão com mel, queques de cenoura e baba de camelo. Estou, portanto, em condições de informar que baba de camelo, lamentavelmente, é uma completa desilusão no que diz respeito ao grau de dificuldade: só leva ovos e leite condensado cozido.

Más compras

Ultimamente tenho comprado muito poucos livros de editoras portuguesas. É uma circunstância de fácil explicação. Em geral, as edições em língua inglesa dos livros que me interessam são mais baratas e de melhor qualidade. Há livrarias online que, para além de não cobrarem portes de envio, nos fazem chegar às mãos os livros em três dias.
O último livro em português que comprei foi Sedução, Conspiração, de Eileen Chang (11.99€, 100 págs, Relógio D’Água). O volume inclui a novela de Eileen Chang em que se baseia o belíssimo filme de Ang Lee, um prefácio de Julia Lovell, um posfácio de Ang Lee e um comentário de James Schamus. A tradução da novela não me colocou problemas de legibilidade. (Faço só uma chamada de atenção: Arabian Nights deve ser traduzido por «Mil e Uma Noites» e não por «Noites Árabes», p. 70.) Não posso, infelizmente, dizer o mesmo dos prefácios e posfácios, que, para além de gralhas e descuidos variados, incluem frases difíceis de decifrar. Para além disso, o entrelinhamento e o tamanho da fonte do texto são tão exagerados que chegam a dificultar a leitura.
No Book Depository, poderia ter comprado um livro de Eileen Chang com este e outros textos (176 págs, da Penguin Classics, que não costuma ser dada a delírios de paginação) por seis libras. Reconheço que dei por mal empregue o dinheiro que gastei com o livro em português.
Para um leitor com o meu perfil (leio mais ficção e ensaio), de todas as editoras portuguesas, a Relógio D’Água é talvez aquela com um catálogo mais apelativo. Seria interessante que o trabalho de edição de texto estivesse à altura da qualidade dos títulos propostos. Sedução, Conspiração, no entanto, já não é o primeiro livro em que encontro este tipo de problemas. Da próxima vez que tiver vontade de ler qualquer coisa desta editora, pensarei duas vezes e é bem possível que opte simplesmente por encomendar o livro em inglês.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sartre e a televisão

Ontem, logo no início da série Seis Graus, uma personagem citou Sartre. Se bem percebi, referiu estas duas frases «Não fazemos aquilo que queremos e, no entanto, somos responsáveis por aquilo que somos.» e «O homem não é a soma do que tem, mas a totalidade do que ainda não tem, do que poderia ter».

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O ladrão de ovos mais famoso de Inglaterra

O ladrão de ovos mais famoso de Inglaterra tem 44 anos, chama-se Gregory Wheal e vive em Coventry. Do seu cadastro constam duas penas de prisão e oito condenações em tribunal. Há vinte anos que se dedica à actividade de roubar ovos de ninhos de pássaros. Em Inglaterra, é o coleccionador de ovos com mais condenações.
Em 2006 passou quatro meses na prisão. De nada serviu esta punição. Pouco tempo depois, em Junho de 2007, a polícia encontrou no quarto dele ovos de falcão peregrino e de corvo, material de montanhismo e de rapel, para além de vários mapas com localização detalhada de ninhos.
Em Inglaterra há legislação que proíbe subtrair, coleccionar ou vender ovos de aves não domésticas. Apesar disso, o roubo e a colecção de ovos é um hobby para centenas de ingleses, sobretudo adultos do sexo masculino. Estes senhores podem percorrer milhares de quilómetros em busca de ovos das espécies mais raras, planeando obsessivamente as excursões como se de operações militares se tratasse, com o objectivo de reunirem colecções sofisticadas e secretas.
Gregory Wheal pediu desculpa no tribunal, confesssando que se tinha deixado levar pelo entusiasmo dos coleccionadores com que costuma conviver. O responsável pelas investigações declarou ominosamente à imprensa, mesmo assim: «Nenhum pássaro estará seguro enquanto Wheal andar por aí».

A vida real das personagens

De repente, numa viagem nocturna entre Westmorland e Londres, um escritor faz uma pequena paragem para jantar num pub e descobre um sítio muito semelhante ao que ele próprio tinha criado num romance.
A suspeita instala-se devido a coincidências entre nomes de personagens e de funcionários de pub. Estas coincidências, ainda que apenas parciais, são inegáveis: o proprietário do pub chama-se Maurice Allington no romance, John Allington no pub; o barman chama-se Fred Soames no romance e, no pub, também se chama Fred; um outro funcionário chama-se David Palmer no romance e George Palmer no pub. O escritor chega a perguntar se ali alguém leu o romance dele, mas ali ninguém leu nada.
O escritor dá pelo nome de Kingsley Amis. Publicou em 1972 esta história, que se intitula «Who or What Was It?». As coincidências são estabelecidas em relação ao romance The Green Man, de 1969. The Green Man é simultaneamente o título do livro, o nome do pub onde a maior parte da acção decorre e também a designação de uma conhecida figura mitológica com rosto e corpo de folhas e, às vezes, flores e frutos. No romance, o protagonista tem de enfrentar uma figura assim. No conto, é o escritor que se confronta com ela durante essa noite, como se tivesse de reconstituir pessoalmente os passos da sua personagem.
Quando leram a história, muitas pessoas, incluindo amigos próximos do escritor, acreditaram tratar-se de uma espécie de relato com algum fundamento real.

Sabia que...?

… é possível encontrar uma versão da figura do Green Man na série Harry Potter?
Palavras de J. K. Rowling:
«Hagrid was always supposed to be this almost elemental force. He's like the king of the forest, or the Green Man. He's this semi-wild person who lives on the edge of the forest».

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Momento waterlog* da semana

Chuvada intensa ao fim da manhã em Lisboa. De óculos, carregada com montes de sacos e sem guarda-chuva, a cem metros de casa. Não vejo nada e nem sequer consigo avançar. Procuro abrigo na entrada do primeiro edifício a que chego e ali fico durante cerca de dez minutos, respirando fundo, a ver a chuva a cair e o cabelo a pingar.

*Totalmente encharcada e, contudo, viva.

O preço

Quando damos um presente a alguém, tiramos a etiqueta do preço. A pessoa que recebe a prenda não precisa de saber quanto custou.

(Uma coisa que me disseram na sexta-feira.)

sábado, 2 de fevereiro de 2008

A história



Your main character, Sophie, is mugged and robbed at the end of the film, she has absolutely nothing left. Isn’t that a dreadful ending?
She’s at the beach, she’s wearing a yellow dress, and she gazes out to the sea. No, I find the ending rather nice. She is somewhat liberated from her former self.

Is that the story?
The story?

Se houver um ciclo Angela Schanelec, contem comigo.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

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