«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Coisas fechadas


Se deixarmos a única chave de alguma coisa lá dentro, para entrar, será necessário arrombar a porta, provavelmente acordar os vizinhos e martelar pelo menos até às duas da manhã.


Animais selvagens, animais domésticos

Passaporte de Virginia Woolf, 1923


1924, um ano antes da publicação de Mrs. Dalloway



Capa de Vanessa Bell para a primeira edição (Hogarth Press, 1929)


Única gravação conhecida da voz de Virginia Woolf. Transmissão radiofónica da BBC de 29 de Abril de 1937. O texto, transcrito aqui, foi posteriormente publicado no livro The Death of the Moth and Other Essays (1942).


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sherlock Holmes e a leitura


É preciso reconhecer, ainda que com alguma pena, que o livro de memórias de Arthur Conan Doyle não é de leitura entusiasmante.
A dada altura, no entanto, o autor diz uma coisa interessante quando explica como escrevia as histórias de Sherlock Holmes:


«People have often asked me whether I knew the end of a Holmes story before I started it. Of course I did. One cannot possibly steer a course if one didn't know one's destination. The first thing is to get your idea. Having got that idea one's next task is to conceal it and lay emphasis upon everything which can make for a different explanation. Holmes, however, can see all the fallacies of the alternatives, and arrives more or less dramatically at the true solution by steps which he can describe and justify.»

Memories and Adventures, Sir Arthur Conan Doyle, Wordsworth, pp. 90-91


Por surpreendente que isto seja num autor de histórias de detectives, Conan Doyle propõe aqui noções de texto e de leitura simetricamente opostas às daqueles que defendem que um texto literário contém informação e que ler consiste em extraí-la.
Para o criador de Sherlock Holmes, escrever é só uma manobra de diversão: «Having got that idea one's next task is to conceal it and lay emphasis upon everything which can make for a different explanation.» O texto, em vez de fornecer informação importante, contém elementos desprovidos de significado e de carácter decisivo para a compreensão da narrativa e a resolução do crime. Ler não é extrair nem decifrar informação. É só ser distraído.


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