«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Livros que (ainda) não li

No ano passado, a vencedora do Costa Award na categoria primeiro romance foi Stef Penney, com o livro The Tenderness of Wolves, que depois receberia também o Costa Book of the Year. Na altura, jornalistas e responsáveis de marketing da editora acharam por bem salientar que a autora sofria de agorafobia e que tinha lidado com crises agudas enquanto escrevia o romance.
Este ano, a vencedora do Costa Award para o primeiro romance, foi Catherine O’Flynn, com o livro What Was Lost, que não recebeu o Costa Book of the Year, embora fosse considerada uma forte candidata. Como Catherine O’Flynn não sofria de fobias ou de qualquer doença exótica, jornalistas e responsáveis de marketing trataram de enumerar as profissões invulgares que a autora foi desempenhando ao longo dos seus 37 anos de vida: carteira, funcionária de uma loja HMV (uma espécie de Fnac sem livros), professora e cliente-mistério.
Bem sei que há aqui uma lição a retirar sobre as técnicas de marketing do mercado livreiro (para sua promoção, convém que o novo escritor se distinga por uma excentricidade qualquer), mas não pude evitar divertir-me com esta lista e com algumas declarações da escritora numa entrevista em que o tema foi focado:

I have a perverse fondness for quite bad jobs - I find them quite stimulating. […]
There's something about being excruciatingly bored, or having to put up with an inordinate amount of rubbish for £5.50 an hour that really crystallises your thoughts and feelings about life. It's a difficult thing to pull off though - it has to be just the right kind of bad job. Too bad and it depresses you too much to write, too comfortable and you become too complacent and don't write either.

No livro What Was Lost conta-se a história de uma menina que passa os dias num centro comercial, escrevendo um diário sobre as personagens mais estranhas ou suspeitas com que se vai cruzando. Segundo alguns comentadores, os grandes trunfos do livro residem na manipulação do tempo e na forma como a autora é capaz de dar voz aos pensamentos íntimos dos frequentadores anónimos e solitários dos centros comerciais sem nunca perder o fio da narrativa.

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