Quando
está muito calor, ouço podcasts, por se tratar de uma atividade que exige um
esforço físico mínimo. (Embora se possa ouvi-los enquanto se faz outras coisas
– conduzir, cozinhar, trabalhar, etc.)
Em vez da
lista tradicional com sugestões de leituras de Verão, numa noite em que não conseguia dormir lembrei-me de fazer uma
lista com os episódios de que mais gostei durante o primeiro semestre de 2016.
Diga-se
de passagem que não é uma lista muito representativa. Enquanto ouvinte, procuro
principalmente temas que me interessam (livros, artes visuais, cinema e música)
e não conheço bem programas sobre outros temas, embora acredite que possa haver
coisas interessantes.
Entre os
podcasts sobre os temas referidos, costumo preferir aqueles que me inspiram
ideias novas ou me deixam a pensar de modo diferente sobre assuntos em que já
penso habitualmente. Além disso, prefiro podcasts com conversas bem preparadas
(isto é, que não se reduzem a tagarelice bem-disposta – para isso já temos as
conversas de todos os dias ou até posts como este). Um monólogo inicial sobre assuntos variados
(como em Entitled Opinions, Other People with Brad Listi ou The Bret Easton
Ellis Podcast) pode funcionar bem.
Ouço de
vez em quando um podcast português (Biblioteca de Bolso, graças ao qual foi
possível ter acesso a esta conversa excelente com Gonçalo M. Tavares). Não sigo outros
podcasts portugueses – não por partir do princípio de que não prestam, mas por
ainda não conhecer bem o que existe. (É mais fácil encontrar recomendações
sobre podcasts estrangeiros, pelo menos nas publicações que costumo ler.)
Às vezes,
alguns podcasts surpreendem-nos. Não basta termos um entrevistador inteligente
e culto a conversar com alguém excepcional. Com frequência, alguém que
pensávamos ser um pouco superficial diz coisas inesquecíveis, enquanto uma
pessoa que admiramos nos faz dormir. Já ouvi entrevistas apaixonantes com
escritores que não tenho vontade de ler e conversas para esquecer com autores
que admiro. O episódio em que Robert Harrison entrevista Marylinne Robinson é
penoso, mas ninguém que tenha lido algum livro da autora duvidará de que ela é um
dos maiores escritores americanos de sempre. Em contraste, Alain de Botton é um
escritor sofrível, mas tem uma conversa interessantíssima com Debbie Millman no podcast
Design Matters.
Em
contrapartida, até ao momento ainda não ouvi uma única entrevista com o
compositor Nico Muhly que tenha achado desinteressante; gosto do que compõe e
do que diz.
Duas
conversas inspiradoras com Nico Muhly:
- A Phone
Call from Paul (primeira parte, segunda).
Conversas
interessantes com escritores que conheço mal e ainda não tenho vontade de
conhecer mais a fundo:
- Eileen Myles (poeta);
- Max Porter (autor de Grief Is the Thing with Feathers);
- Lina Meruane (autora de Seeing Red).
Conversas divertidas com realizadores de que gosto:
Discussões
inteligentes sobre temas em que costumo pensar:
-
tradução de livros; ver também esta conversa com Tim Parks;
- o que publicar numa revista (neste caso, de música).
Em suma, no universo dos
podcasts são possíveis pelo menos estas hipóteses: pessoas maravilhosas que não
dizem coisas interessantes; pessoas desinteressantes que dizem coisas
maravilhosas; pessoas geniais que dizem coisas geniais; pessoas banais que só
dizem banalidades; pessoas que não conhecemos mas ficamos com vontade conhecer;
pessoas que não conhecemos nem queremos conhecer. (Há mais variações, mas estas
já dão uma ideia.)