«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

terça-feira, 26 de julho de 2016

Podcasts de Verão


Quando está muito calor, ouço podcasts, por se tratar de uma atividade que exige um esforço físico mínimo. (Embora se possa ouvi-los enquanto se faz outras coisas – conduzir, cozinhar, trabalhar, etc.)

Em vez da lista tradicional com sugestões de leituras de Verão, numa noite em que não conseguia dormir lembrei-me de fazer uma lista com os episódios de que mais gostei durante o primeiro semestre de 2016.

Diga-se de passagem que não é uma lista muito representativa. Enquanto ouvinte, procuro principalmente temas que me interessam (livros, artes visuais, cinema e música) e não conheço bem programas sobre outros temas, embora acredite que possa haver coisas interessantes.

Entre os podcasts sobre os temas referidos, costumo preferir aqueles que me inspiram ideias novas ou me deixam a pensar de modo diferente sobre assuntos em que já penso habitualmente. Além disso, prefiro podcasts com conversas bem preparadas (isto é, que não se reduzem a tagarelice bem-disposta – para isso já temos as conversas de todos os dias ou até posts como este). Um monólogo inicial sobre assuntos variados (como em Entitled Opinions, Other People with Brad Listi ou The Bret Easton Ellis Podcast) pode funcionar bem.

Ouço de vez em quando um podcast português (Biblioteca de Bolso, graças ao qual foi possível ter acesso a esta conversa excelente com Gonçalo M. Tavares). Não sigo outros podcasts portugueses – não por partir do princípio de que não prestam, mas por ainda não conhecer bem o que existe. (É mais fácil encontrar recomendações sobre podcasts estrangeiros, pelo menos nas publicações que costumo ler.)

Às vezes, alguns podcasts surpreendem-nos. Não basta termos um entrevistador inteligente e culto a conversar com alguém excepcional. Com frequência, alguém que pensávamos ser um pouco superficial diz coisas inesquecíveis, enquanto uma pessoa que admiramos nos faz dormir. Já ouvi entrevistas apaixonantes com escritores que não tenho vontade de ler e conversas para esquecer com autores que admiro. O episódio em que Robert Harrison entrevista Marylinne Robinson é penoso, mas ninguém que tenha lido algum livro da autora duvidará de que ela é um dos maiores escritores americanos de sempre. Em contraste, Alain de Botton é um escritor sofrível, mas tem uma conversa interessantíssima com Debbie Millman no podcast Design Matters.

Em contrapartida, até ao momento ainda não ouvi uma única entrevista com o compositor Nico Muhly que tenha achado desinteressante; gosto do que compõe e do que diz.
 
 
Ver faixa Doublespeak.

 
Duas conversas inspiradoras com Nico Muhly:

- A Phone Call from Paul (primeira parte, segunda).
 

Conversas interessantes com escritores que conheço mal e ainda não tenho vontade de conhecer mais a fundo:

- Eileen Myles (poeta);

- Max Porter (autor de Grief Is the Thing with Feathers);

- Lina Meruane (autora de Seeing Red).
 
 
Village of the Damned, de John Carpenter (1995)
 

Conversas divertidas com realizadores de que gosto:



 
 
Frock, Patrícia Treib
 

Discussões inteligentes sobre temas em que costumo pensar:



- o que publicar numa revista (neste caso, de música).
 

Em suma, no universo dos podcasts são possíveis pelo menos estas hipóteses: pessoas maravilhosas que não dizem coisas interessantes; pessoas desinteressantes que dizem coisas maravilhosas; pessoas geniais que dizem coisas geniais; pessoas banais que só dizem banalidades; pessoas que não conhecemos mas ficamos com vontade conhecer; pessoas que não conhecemos nem queremos conhecer. (Há mais variações, mas estas já dão uma ideia.)
Ainda assim, é sempre bom estarmos atentos ao que os outros têm para dizer. Também deste modo se aprende a pensar e a viver.
 


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