«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

terça-feira, 12 de julho de 2016

Dar cabo da vida



«Dr Weiss, at forty, knew that her life had been ruined by literature.»
(A Start in Life, Anita Brookner)

 
 
Já me interroguei algumas vezes sobre como seria a minha vida se não me interessasse por ler.

Teria, sem dúvida, uma profissão diferente – não sei bem qual. (Agricultura? Bordados?)

Talvez até vivesse numa cidade diferente. Pensamento inquietante, seria possível, inclusivamente, residir numa aldeia – numa quinta em lugar isolado, protegida por cães grandes. Usaria chapéu e interessar-me-ia por culinária e botânica aplicada.

Parece-me também seguro dizer que teria mais tempo livre. Que faria então com esse tempo livre? Talvez frequentasse mais o cabeleireiro e até o ginásio. Talvez ir ao cabeleireiro e ao ginásio pudessem tornar-se os meus únicos desejos, as minhas preocupações mais queridas.

Se tivesse de escrever alguma coisa – um recado para o carteiro, um email de protesto a propósito de uma encomenda incompleta  – , não me incomodaria com as minhas frases mal construídas, mas fingiria sempre importar-me com as dos outros.
 

Seria saudável. Teria menos alergias.
 

 


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