«Dr Weiss, at forty, knew that her life had been
ruined by literature.»
(A Start in Life, Anita Brookner)
(A Start in Life, Anita Brookner)
Já me
interroguei algumas vezes sobre como seria a minha vida se não me interessasse
por ler.
Teria,
sem dúvida, uma profissão diferente – não sei bem qual. (Agricultura?
Bordados?)
Talvez
até vivesse numa cidade diferente. Pensamento inquietante, seria possível,
inclusivamente, residir numa aldeia – numa quinta em lugar isolado, protegida
por cães grandes. Usaria chapéu e interessar-me-ia por culinária e botânica
aplicada.
Parece-me
também seguro dizer que teria mais tempo livre. Que faria então com esse tempo
livre? Talvez frequentasse mais o cabeleireiro e até o ginásio. Talvez ir ao cabeleireiro
e ao ginásio pudessem tornar-se os meus únicos desejos, as minhas preocupações
mais queridas.
Se
tivesse de escrever alguma coisa – um recado para o carteiro, um email de
protesto a propósito de uma encomenda incompleta – , não me incomodaria com as minhas frases mal
construídas, mas fingiria sempre importar-me com as dos outros.
Seria
saudável. Teria menos alergias.