«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

terça-feira, 12 de julho de 2016

Impressões, impressoras

Alex Katz
 
 
Farto de problemas com o scanner, B. quer comprar uma impressora nova.
 
A impressora antiga tem cerca de dez anos. Durante esse período imprimi os diversos rascunhos das minhas teses de mestrado e doutoramento.
 
Quando esta impressora imprime, tem de se ficar junto a ela para evitar que encrave e/ou atire as páginas ao chão. Vou sentir falta das pausas em que mudava de centro de atenção, passsando de assuntos abstractos até às lágrimas para questões eminentemente práticas.
 
Com uma certa nostalgia, recordo os momentos em que, umas vezes em desespero, noutras secretamente aliviada, tive de, perante o olhar pouco impressionado dos gatos, parar de trabalhar para extrair do interior da máquina páginas amarfanhadas e manchadas de tinta, por vezes em pedacinhos arrancados com pinça.
 
 
Esta impressora, na verdade, equivalia a duas: quando comprámos a primeira, constatámos que o scanner deixava umas zonas escuras; a loja entregou-nos uma máquina nova, mas deixou-nos ficar com a primeira, que ainda hoje continua dentro de um armário, para recorrermos a ela em caso de emergência, se a segunda avariar. Quando a impressora nova chegar, B. deixa-me ficar com a segunda, mas teremos de nos livrar da primeira – da impressora secreta, arrumada no escuro, aquela que nos salvaria a vida, se fosse necessário.

 


Arquivo do blogue