Alex Katz
Farto de
problemas com o scanner, B. quer comprar uma impressora nova.
A
impressora antiga tem cerca de dez anos. Durante esse período imprimi
os diversos rascunhos das minhas teses de mestrado e doutoramento.
Quando esta
impressora imprime, tem de se ficar junto a ela para evitar que encrave e/ou
atire as páginas ao chão. Vou sentir falta das pausas em que mudava de centro
de atenção, passsando de assuntos abstractos até às lágrimas para questões
eminentemente práticas.
Com uma
certa nostalgia, recordo os momentos em que, umas vezes em desespero, noutras
secretamente aliviada, tive de, perante o olhar pouco impressionado dos gatos,
parar de trabalhar para extrair do interior da máquina páginas amarfanhadas e
manchadas de tinta, por vezes em pedacinhos arrancados com pinça.
Esta
impressora, na verdade, equivalia a duas: quando comprámos a primeira,
constatámos que o scanner deixava umas zonas escuras; a loja entregou-nos uma
máquina nova, mas deixou-nos ficar com a primeira, que ainda hoje continua
dentro de um armário, para recorrermos a ela em caso de emergência, se a
segunda avariar. Quando a impressora nova chegar, B. deixa-me ficar com a
segunda, mas teremos de nos livrar da primeira – da impressora secreta,
arrumada no escuro, aquela que nos salvaria a vida, se fosse necessário.