Li com enorme prazer o livro Conversas com Wittgenstein, de O. K. Bouwsma (Relógio d’Água, trad. Miguel Serras Pereira). O livro reproduz as notas em tom diarístico que Bouwsma achou por bem registar em memória do seu convívio com Wittgenstein. Esta leitura permite um contacto com o pensamento do filósofo em acção, por entre conversas pouco formais, passeios e discussões, e dá-nos a conhecer um pouco de quem ele realmente era.
Em Wittgenstein, a actividade filosófica foi sempre acompanhada por uma forma de vida em estrita correlação com ela. Para ele, não havia propriamente fronteiras entre questões filosóficas, estéticas, morais ou existenciais. Neste sentido, saber como ele era, como vivia, não corresponde apenas a um impulso gratuito de curiosidade em relação à vida alheia. Conhecer a sua forma de vida ajuda-nos a compreender a sua filosofia.
A entrada de 25 de Setembro de 1950 (p. 112) é particularmente adequada para ilustrar o que estou a dizer. Durante um passeio pelos prados de Oxford, a conversa entre Wittgenstein gira em torno de vários temas aparentemente desprovidos de importância: a arquitectura da região, algumas árvores (as sequóias), Elizabeth Anscombe ou os hábitos de certos aves comuns de Inglaterra (o tentilhão, o chapim, o pintarroxo, o cardeal, o cisne), algumas delas avistadas no percurso. A dada altura (p. 114), Bouwsma conta:
Em Wittgenstein, a actividade filosófica foi sempre acompanhada por uma forma de vida em estrita correlação com ela. Para ele, não havia propriamente fronteiras entre questões filosóficas, estéticas, morais ou existenciais. Neste sentido, saber como ele era, como vivia, não corresponde apenas a um impulso gratuito de curiosidade em relação à vida alheia. Conhecer a sua forma de vida ajuda-nos a compreender a sua filosofia.
A entrada de 25 de Setembro de 1950 (p. 112) é particularmente adequada para ilustrar o que estou a dizer. Durante um passeio pelos prados de Oxford, a conversa entre Wittgenstein gira em torno de vários temas aparentemente desprovidos de importância: a arquitectura da região, algumas árvores (as sequóias), Elizabeth Anscombe ou os hábitos de certos aves comuns de Inglaterra (o tentilhão, o chapim, o pintarroxo, o cardeal, o cisne), algumas delas avistadas no percurso. A dada altura (p. 114), Bouwsma conta:
«W. deu de comer a um esquilo que estava debruçado de uma árvore e acariciou-o ao colo. […] Falou do facto de o esquilo castanho (penso eu) ter desaparecido da Europa. E depois dos nossos esquilos castanhos e cinzentos.
Enquanto passávamos por Merton, admirou uma pequena árvore com as folhas avermelhadas, e voltou a chamar a atenção para a torre de Merton e para a idade da capela. […]
À ceia comeu compota de maçã, mais tarde falou das nozes-de-coco – do seu sabor. Não gosta dos frutos da família do melão – abóboras, melões, pepinos.»
Com apontamentos aparentemente tão insignificantes quanto estes, o livro de Bouwsma ensina-me mais sobre Wittgenstein do que páginas e páginas de comentários sobre o Tractatus e as Investigações Filosóficas, redigidas com ambições académicas por especialistas em Wittgenstein.