«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Ironias do mercado



Os livros de Ian McEwan de que mais gosto são os três primeiros que publicou: duas antologias de contos (First Love, Last Rites, 1975, e In Between the Sheets, 1978) e o romance The Cement Garden (1978). Não ganharam prémios de destaque e acho que na altura ninguém os considerou obras-primas. São, aliás, livros que eu própria considero imperfeitos, desequilibrados e com alguns momentos pouco conseguidos.
Parece-me que descrições como «grande romance», «obra-prima», etc., apesar de rótulos práticos para alguns tipos de crítica literária, podem concentrar certos critérios (pouco explícitos) de gosto convencional e, por conseguinte, correr o risco de deixar escapar livros com características menos usuais.
Quando li Atonement/Expiação, dos livros que Ian McEwan tinha escrito até ali só não tinha lido ainda The Child in Time e The Innocent. Depois de Atonement, romance de consagração, ainda não tive vontade de ler mais nada dele. Receio que, assim como os mecanismos da recepção crítica a McEwan se foram reformulando e ajustando a um cânone que os próprios livros do escritor ajudaram a transformar, também McEwan tenha reconfigurado a sua escrita para se aproximar dos critérios convencionais de consagração, perdendo neste processo alguns dos traços que tão interessantes tinham tornado os seus livros no início.
O excesso de publicidade também não contribui para me motivar.

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