«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Eu também vi filmes em Janeiro

No mês de Janeiro vi onze filmes. Por acaso, nenhum em salas do circuito comercial. Inspirada por este post da Lídia, e rogando-lhe encarecidamente que em breve publique a identificação das imagens (pois há várias cuja origem não consigo localizar), coloco aqui um fotograma por cada filme que vi. Ainda que alguns deles sejam relativamente bem conhecidos, prometo publicar um post indicando todos os títulos e respectivos realizadores num dos próximos dias.

1. Honra de Cavalaria, de Albert Serra
Digamos que comecei bem 2008, vendo este filme logo no dia um de Janeiro. (Aquilo que se faz no primeiro dia do ano é muito importante.) Tenho pena de não ter visto no écran de uma sala de cinema. Deve ser uma experiência verdadeiramente esmagadora. Mesmo em DVD, é um filme magníco.


2. Le Diable Probablement, de Robert Bresson
Deste não falo, pois fiz um pequeno voto de silêncio em relação a Bresson neste blogue.


3. The Birth of a Nation, de D. W. Griffith
Do ponto de vista ideológico, este filme pode ser descrito como defesa e glorificação do Ku Klux Klan. É preciso um certo esforço para conseguir dominar a indignação perante algumas sequências. Houve, no entanto, uma característica a que, à falta de melhor adjectivo, chamarei «estética», que me chamou a atenção: é possível localizar a presença de pelo menos uma vela acesa em quase todos os planos que mostram o interior de casas.
Esta circunstância lembrou-me de imediato uma tela de Lorenzo Lotto, intitulada Retrato de Jovem sobre Cortina Branca, que inclui uma intrigante lâmpada acesa (minúscula e quase imperceptível, no canto superior direito) que causa a fúria de muitos comentadores que se irritam contra a própria incapacidade de encontrar uma explicação plausível para a presença dela ali.



4. Jeanne d’Arc, de Dreyer
Já falámos sobre este.


5. Broken Blossoms, de D. W. Griffith
Muito bonito. Totalmente dickensiano. Lillian Gish é uma das maiores actrizes da história do cinema.


6. Este Obscuro Objecto de Desejo, de Luis Buñuel
Gostei imenso deste truque de colocar o protagonista a narrar a história num comboio em andamento.


7. O Fantasma da Liberdade, de Luis Buñuel
Muita gente não gosta particularmente deste filme composto por vários episódios sem grande conexão narrativa entre si. Eu até gostei, principalmente do primeiro episódio, que inclui uns postais que um indivíduo suspeito oferece a uma criança num parque, e do episódio da criança supostamente desaparecida que é mandada calar quando tenta explicar que afinal está ali.


8. Three Seasons, de Tony Bui
Para quem gosta de flores de lótus brancas.



9. Rebecca, de Alfred Hitchcock
Este fotograma faz parte da sequência na noite do baile de máscaras em que, devido ao acidente com um barco encalhado, é descoberto o barco de Rebecca no fundo do mar, com o corpo dela preso numa das cabines. Julgando que vai ser responsabilizado pela morte da primeira mulher, Maxim de Winter refugia-se no pavilhão junto à praia. É neste mundo de sombras que a protagonista o vai encontrar.
Hitchcock considera este filme demasiado «romanesco», mas, para mim, Rebecca inclui algumas das sequências mais belas da sua obra: o início do filme, com a câmara a percorrer os caminhos que levam a Manderley, enquanto se ouve a protagonista em voz-off; a noite do baile de máscaras; o incêndio final em Manderley.


10. De tanto bater, o meu coração parou, de Jacques Audiard
Se não temos cuidado, a história da nossa vida passa a ser a história da violência a que nos submetemos diariamente para esquecer aquilo de que desistimos e que era o que mais queríamos fazer. Manchas de sangue em punhos brancos.


11. Blackmail, de Alfred Hitchcock
Primeiro filme sonoro de Hitchcock. Este fotograma faz parte da deliciosa sequência de perseguição do chantagista no British Museum. Que ninguém diga que o homem não era um génio.

Arquivo do blogue