Quando tentava definir o primeiro capítulo da minha tese de doutoramento, num momento de inspiração malickiana lembrei-me de que poderia começar simplesmente pelo princípio.
O princípio, sim, o
princípio. Mas qual deles?
A resposta pareceu simples ao
meu eu dessa época: teria obviamente de ser o princípio dos tempos. Esta seria,
aliás, uma boa solução para todas as teses de doutoramento. Adeus, dúvidas
sobre o capítulo inaugural. Todos os candidatos deveriam começar no início do
mundo.
Ainda hoje B. ri às
gargalhadas sempre que se lembra disto. Eu, no entanto, falava vagamente a
sério. As primeiras frases da minha tese iam ser: «Big Bang. As partículas
começam a coleccionar-se umas às outras.»
Por incrível que pareça, o
princípio da minha tese não é assim. Em vez de partir do Big Bang, a tese
converteu-se numa espécie de buraco negro de ideias com que ainda simpatizo mas
que deixei de conseguir recuperar para a legibilidade.
É bem possível que as teses de doutoramento sejam o lugar aonde as ideias vão morrer e não começar.
É bem possível que as teses de doutoramento sejam o lugar aonde as ideias vão morrer e não começar.