«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

terça-feira, 2 de junho de 2009

Os corpos que temos

Em princípio, cada ser humano tem uma cabeça com dois olhos, um nariz e uma boca, um tronco, dois braços, duas mãos com cinco dedos cada, duas pernas, dois pés também com cinco dedos, um esqueleto a suportar isto tudo.

No livro Mutantes, Armand Marie Leroi, professor de Biologia Evolucionista do Desenvolvimento no Imperial College de Londres, reflecte sobre o que está na base desta morfologia a partir de casos históricos desviantes e dos mitos que corpos assim provavelmente inspiraram: gémeos siameses, hermafroditas, ciclopes, albinos, anões, gigantes, sereias. As histórias de vida destas pessoas e daqueles que as estudaram funcionam como ponto de partida para explicar as razões de os nossos próprios corpos serem como são:
«Os morfogénios que atravessam o embrião em desenvolvimento fornecem às células uma espécie de grelha de coordenadas que lhes permitem descobrir onde se encontram e, por consequência, o que devem ser e fazer. Uma célula é, assim, bastante semelhante a um navegador que, atravessando os confins do oceano, trabalha com sextante e cronómetro para encontrar a longitude e a latitude do ponto onde se encontra a cada momento.» (pp. 106-107, trad. Jorge Lima)

O livro passou-me pelas mão por razões profissionais. À partida, não me lembraria sozinha de comprar um ensaio sobre este tema. Mas dei por mim perfeitamente deslumbrada com o que estava a ler: não só pelo interesse que a abordagem me suscitou, mas também devido à clareza com que o autor é capaz de explicar aos leigos mecanismos tão complexos.

Em Inglaterra o livro foi tão bem recebido que o Channel Four decidiu fazer uma série a partir dele, apresentada pelo próprio autor. Nós por cá é mais concursos, telenovelas e futebol. Valham-nos algumas editoras que ainda publicam ensaios assim.


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