No Instituto Benjamenta de Jakob Von Gunten aprende-se a importância da submissão e das tarefas pequenas e subalternas para a sobrevivência:
«Quem saiba resignar-se, adaptar-se e mexer-se, por tolo e ignorante que seja, ainda não está perdido, talvez encontre melhor o seu caminho na vida do que aquele que é esperto e vem equipado com com conhecimentos.» (p. 32); «É claro que temos de pensar, pensar muito até. Mas a submissão é muito, muito mais refinada do que pensar. Quando pensamos, oferecemos resistência, e é tão feio isto, tão vicioso. Se quem pensa soubesse o quanto pensar vicia as coisas. Quem por zelo não pensa, faz qualquer coisa, e esta coisa é bem mais necessária.» (p. 89)
Não se pode dizer que o narrador seja bom aluno, uma vez que demonstra algumas dificuldades em adaptar-se aos princípios em que assenta a educação da escola.
Em vez de viver como «uma pessoa de cultura numa era de cultura» percebe o mundo como um conto de fadas e um sonho selvagem e arrebatador devido à atmosfera estabelecida pelo ritmo apressado das pessoas na rua e pelo brilho dos seus olhos deixando transparecer as suas ambições: «todas estas figuras, e eu com elas, caminham apressadamente sob a gaze opaca, como figuras de um sonho, à procura de alguma coisa, mas sem nunca encontrar, parece, o que é belo e certo. Todos aqui procuram alguma coisa, todos anseiam por riquezas e fortunas fabulosas. Sempre com pressa. Não, sabem dominar-se em tudo, mas a pressa, a ânsia, o tormento e a inquietude brilham em lampejos nos olhos ávidos.» (p. 40)
«Quem saiba resignar-se, adaptar-se e mexer-se, por tolo e ignorante que seja, ainda não está perdido, talvez encontre melhor o seu caminho na vida do que aquele que é esperto e vem equipado com com conhecimentos.» (p. 32); «É claro que temos de pensar, pensar muito até. Mas a submissão é muito, muito mais refinada do que pensar. Quando pensamos, oferecemos resistência, e é tão feio isto, tão vicioso. Se quem pensa soubesse o quanto pensar vicia as coisas. Quem por zelo não pensa, faz qualquer coisa, e esta coisa é bem mais necessária.» (p. 89)
Não se pode dizer que o narrador seja bom aluno, uma vez que demonstra algumas dificuldades em adaptar-se aos princípios em que assenta a educação da escola.
Em vez de viver como «uma pessoa de cultura numa era de cultura» percebe o mundo como um conto de fadas e um sonho selvagem e arrebatador devido à atmosfera estabelecida pelo ritmo apressado das pessoas na rua e pelo brilho dos seus olhos deixando transparecer as suas ambições: «todas estas figuras, e eu com elas, caminham apressadamente sob a gaze opaca, como figuras de um sonho, à procura de alguma coisa, mas sem nunca encontrar, parece, o que é belo e certo. Todos aqui procuram alguma coisa, todos anseiam por riquezas e fortunas fabulosas. Sempre com pressa. Não, sabem dominar-se em tudo, mas a pressa, a ânsia, o tormento e a inquietude brilham em lampejos nos olhos ávidos.» (p. 40)
Neste universo feérico, segundo o narrador, aqueles que cumprem tarefas menores figuram como duendes «que, como é sabido, cumpriam todas as tarefas mais rudes e árduas apenas por uma sobrenatural bondade do coração.» (p. 37).
No núcleo deste conto de fadas que se joga com regras pouco compreensíveis reside um paradoxo que o narrador não consegue resolver: apesar de desejar acima de tudo permanecer pequeno («Fico tão feliz por não ver nada em mim digno de consideração e de respeito! Ser e permanecer pequeno. E se uma mão, uma circunstância, uma onda, me erguesse e levasse aonde o poder e a influência dominam, eu próprio desfaria os laços que me privilegiassem, eu próprio me atiraria para a escuridão baixa e muda. Só consigo respirar nas regiões inferiores.», p. 142), nunca consegue ser do tamanho adequado para sequer desejar ter sucesso no mundo, ao contrário de alguns dos seus colegas: «gente estúpida como ele foi criada para avançar, chegar longe, viver bem e mandar, ao passo que pessoas sensatas como eu têm de deixar florescer e esmorecer os seus bons impulsos ao serviço dos outros. Eu, eu serei qualquer coisa muito insignificante e pequena.» (p. 44).
No núcleo deste conto de fadas que se joga com regras pouco compreensíveis reside um paradoxo que o narrador não consegue resolver: apesar de desejar acima de tudo permanecer pequeno («Fico tão feliz por não ver nada em mim digno de consideração e de respeito! Ser e permanecer pequeno. E se uma mão, uma circunstância, uma onda, me erguesse e levasse aonde o poder e a influência dominam, eu próprio desfaria os laços que me privilegiassem, eu próprio me atiraria para a escuridão baixa e muda. Só consigo respirar nas regiões inferiores.», p. 142), nunca consegue ser do tamanho adequado para sequer desejar ter sucesso no mundo, ao contrário de alguns dos seus colegas: «gente estúpida como ele foi criada para avançar, chegar longe, viver bem e mandar, ao passo que pessoas sensatas como eu têm de deixar florescer e esmorecer os seus bons impulsos ao serviço dos outros. Eu, eu serei qualquer coisa muito insignificante e pequena.» (p. 44).
Para se sobreviver incólume num mundo pequeno é preciso continuar sempre mais pequeno do que os pequenos, ao ponto de, num misto de fascínio e de repulsa, se descrever mal as próprias regras do jogo deles. É isto que aprendemos com Walser, sobretudo por ele ser tão mau aluno.