Tão pouco sol apanhei durante o Verão de 2008 que chego por vezes a recear que a palidez me dissolva definitivamente os traços do rosto. De contacto com o mundo exterior limitado à observação através da janela de um escritório com vista para uma esplanada e um pequeno jardim, habituei-me a medir as horas do dia através da comparência de certas figuras, reconhecendo os frequentadores assíduos do café como elementos importantes da minha vida.
O dia a começar através da montagem dos guarda-sóis e da arrumação das mesas e das cadeiras, ecos metálicos pelo ar. Uma lufada de vento mais forte, a meio da manhã, fazendo os guarda-sóis desabar sobre os clientes mais adormecidos; os gémeos jogando futebol sobre a relva, com sandálias verde fluorescente; o dentista bodybuilder e motard fumando um cigarro antes de ir trabalhar.
Julgar-se-ia que um homem e uma mulher envergando camisas no mesmo invulgar tom de rosa-choque, lado a lado mas em mesas diferentes e sem se conhecerem, fossem mais adequados a um filme de Rohmer do que a um café de Telheiras observado por alguém que sofre de enxaquecas e apesar disso tenta organizar as ideias durante o Verão, mas pormenores insólitos e dissonantes ocorrem invariavelmente a meio da tarde.
De entre os figurantes e protagonistas da esplanada, chamava-me sempre a atenção um senhor de alguma idade que aparecia sozinho com um cãozinho branco de aparência pouco simpática. Muito nervoso, o cãozinho rosnava a qualquer outro animalzito que lhe acontecesse avistar ao longe. Bastava o dono deixá-lo cá fora enquanto ia pagar para ele armar grande chinfrineira. Optar por ficar dentro do café e deixá-lo no exterior era a garantia mais certa de cerca de meia-hora de latidos lancinantes e de três parágrafos para deitar fora.
O dia a começar através da montagem dos guarda-sóis e da arrumação das mesas e das cadeiras, ecos metálicos pelo ar. Uma lufada de vento mais forte, a meio da manhã, fazendo os guarda-sóis desabar sobre os clientes mais adormecidos; os gémeos jogando futebol sobre a relva, com sandálias verde fluorescente; o dentista bodybuilder e motard fumando um cigarro antes de ir trabalhar.
Julgar-se-ia que um homem e uma mulher envergando camisas no mesmo invulgar tom de rosa-choque, lado a lado mas em mesas diferentes e sem se conhecerem, fossem mais adequados a um filme de Rohmer do que a um café de Telheiras observado por alguém que sofre de enxaquecas e apesar disso tenta organizar as ideias durante o Verão, mas pormenores insólitos e dissonantes ocorrem invariavelmente a meio da tarde.
De entre os figurantes e protagonistas da esplanada, chamava-me sempre a atenção um senhor de alguma idade que aparecia sozinho com um cãozinho branco de aparência pouco simpática. Muito nervoso, o cãozinho rosnava a qualquer outro animalzito que lhe acontecesse avistar ao longe. Bastava o dono deixá-lo cá fora enquanto ia pagar para ele armar grande chinfrineira. Optar por ficar dentro do café e deixá-lo no exterior era a garantia mais certa de cerca de meia-hora de latidos lancinantes e de três parágrafos para deitar fora.