«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Margarida de Antioquia



Santa Margarida de Antioquia, Francisco de Zurbarán (1630-4)
National Gallery


 
«We cannot and do not slay the Dragon, that is a medieval idea, I guess. We have to become completely familiar with him and hope that he sleeps.» (Agnes Martin)

 
 
A única maneira é tentar conhecer o Dragão, propor-lhe amizade, se possível domesticá-lo, integrando-o em casa. Margarida de Antioquia já não se incomoda com o rosnar da criatura. Em vez disso, exibe-a como atributo ou adereço. A cauda do Dragão que lhe coube lembra agora um suporte para braços de uma cadeira valiosa, um pouco decorativa, mas em que se pode ler ou descansar. Apesar de continuar com a aparência feroz que sempre o caracterizará, o Dragão simpatiza com ela ao ponto de lhe ter cedido a pata que ela pediu emprestada para poder ter os dois pés assentes no chão.
 
Escusado será dizer que, ao contrário de Margarida, nem todos conhecemos suficientemente bem o Dragão que nos acompanha diariamente; nem todos conseguimos aproximar-nos dele. Muitos de nós ainda têm medo de que nos faça mal. O meu Dragão, por exemplo, nunca me cederia uma pata, mesmo se lhe explicasse que sem ela não consigo caminhar.
 
Margarida também traz sempre consigo o livro em que se conta a história da sua vida. De acordo com os que veneram esta santa, Deus velará por aqueles que tenham este volume em casa e apertem o relato ao peito em tempos difíceis ou em caso de perigo.
 
Li isto há pouco tempo, na autobiografia de um filósofo americano: o lugar em que nos encontramos pode ser perigoso, mas se lá estamos, é a nossa casa naquele momento; ou domesticamos esse espaço, conquistando-o, ou estaremos sempre a começar do zero.
 

 

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