Santa Margarida de Antioquia, Francisco de Zurbarán (1630-4)
National Gallery
A única
maneira é tentar conhecer o Dragão, propor-lhe amizade, se possível
domesticá-lo, integrando-o em casa. Margarida de Antioquia já não se incomoda
com o rosnar da criatura. Em vez disso, exibe-a como atributo ou adereço. A
cauda do Dragão que lhe coube lembra agora um suporte para braços de uma
cadeira valiosa, um pouco decorativa, mas em que se pode ler ou descansar.
Apesar de continuar com a aparência feroz que sempre o caracterizará, o Dragão
simpatiza com ela ao ponto de lhe ter cedido a pata que ela pediu emprestada
para poder ter os dois pés assentes no chão.
Escusado
será dizer que, ao contrário de Margarida, nem todos conhecemos suficientemente
bem o Dragão que nos acompanha diariamente; nem todos conseguimos aproximar-nos
dele. Muitos de nós ainda têm medo de que nos faça mal. O meu Dragão, por
exemplo, nunca me cederia uma pata, mesmo se lhe explicasse que sem ela não
consigo caminhar.
Margarida
também traz sempre consigo o livro em que se conta a história da sua vida. De
acordo com os que veneram esta santa, Deus velará por aqueles que tenham este
volume em casa e apertem o relato ao peito em tempos difíceis ou em caso de
perigo.
Li isto
há pouco tempo, na autobiografia de um filósofo americano: o lugar em que nos
encontramos pode ser perigoso, mas se lá estamos, é a nossa casa naquele
momento; ou domesticamos esse espaço, conquistando-o, ou estaremos sempre a começar
do zero.