«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Jack Maggs, de Peter Carey

A propósito deste livro, constato dois fenómenos interessantes .

Apesar de ter personagens que vêm do romance Great Expectations, de Dickens, apesar de a narrativa se situar na cidade e no tempo de Dickens, apesar de incluir uma personagem (o escritor Tobias Oates) que partilha elementos biográficos com Dickens, em Jack Maggs a referência a Dickens acaba por funcionar de modo deceptivo: encontro mais Charles Dickens nos primeiros romances de Paul Auster (principalmente nas personagens que andam à deriva pelo mundo, lutando pela sobrevivência física) do que em Peter Carey.
Não se trata de uma constatação negativa, embora, por si só, também não seja necessariamente positiva. Não haverá muitos escritores que se confrontem com os universos das suas supostas influências e sobrevivam incólumes ao embate. Interessa, no entanto, averiguar se conseguem ganhar alguma coisa com isso. (Terei de ler mais livros de Peter Carey para perceber.)

Depois, quando leio este livro acontece-me uma coisa estranha. Não tenho por hábito imaginar actores dando corpo às personagens dos romances, mas aqui vejo sempre Harvey Keitel quando vejo Jack Maggs. Terá Peter Carey concebido o protagonista a partir de Harvey Keitel, imaginando que o actor poderia um dia ser o protagonista de um filme realizado a partir do livro? Ou não passará tudo isto de uma fantasia minha?


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