«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Fins-de-semana

Feira do Livro
Fui no domingo. Muita gente e, hélas!, fila interminável para as farturas.
A diversidade, para mim, é um dos grandes atractivos da Feira. Sou totalmente a favor da liberdade de escolha do modelo do pavilhão. Os pavilhões da Leya, com uma luz estranha e desagradável no interior devido à cobertura vermelha, transmitiram-me, no entanto, a sensação de escassa variedade de títulos disponíveis. O espaço para as pessoas circularem no interior pareceu-me exíguo para tanta gente. O facto de os livros não terem preços marcados também se revelou uma grande falha.
Por outro lado, a D. Quixote estava a fazer desconto de 40% no primeiro volume de O Homem Sem Qualidades e só por isso já merecia um beijinho. Livros do Dia que não interessam a ninguém são um mal desnecessário.
Quanto às minhas compras, para além de Musil, Verão, de Edith Wharton (Relógio D’Água) e dois Nabokov a preços reduzidos: Na Outra Margem da Memória – uma autobiografia revisitada (Difel) e Aulas de Literatura (Relógio D’Água).
Muitas coisas ainda por explorar. Nem sequer me consegui aproximar dos saldos da Assírio&Alvim. No meio da multidão, Pedro Costa e Paulo Rocha, dois heróis do cinema português.

Indiana Jones
Sou fã. O meu preferido é o terceiro. Ainda hoje me comove a sequência que culmina com a descoberta do Graal: o «leap of faith» que Indiana Jones tem a coragem de dar sobre o abismo, a ponte invisível que se materializa sob as botas gastas do herói, o combate inesperadamente fácil com o cavaleiro imortal, os critérios da escolha do cálice.
Em todos os filmes, gosto da arquitectura dos cenários: túmulos, subterrâneos, túneis, passagens secretas, armazéns de acesso interdito. Sigo com muita atenção os momentos em que as personagens decifram instruções, resolvem enigmas e superam provas para chegar àquilo que procuram ou pensam procurar.
Deste quarto filme não saí totalmente decepcionada porque me agradaram a sequência nos armazéns americanos e a breve passagem pela aldeia de testes nucleares, a descoberta e a visita ao túmulo de Francisco de Orellana (decerto com uma versão mais longa a sair em DVD) e todo o percurso pelo templo das caveiras de cristal.
Hitchcock dizia que um vilão tem de ter charme e suscitar um mínimo de empatia, mas tudo indica que poucos foram os que aprenderam a lição. A personagem de Cate Blanchett, caricatural e histriónica, parece-me, neste sentido, totalmente falhada e excepcionalmente irritante. Um filme deste género depende muito da actuação de um adversário bem conseguido, essa guerra não foi ganha aqui e o filme como um todo saiu a perder.

São como as palavras
Já tinha lido sobre elas na blogosfera. Vi depois umas pessoas na televisão numa espécie de festival de cerejas no Porto, comentando os preços:
- Encontrei a dois euros e cinquenta num hipermercado. Comprei um quilo por cinco euros no Bulhão.
Uma senhora a dizer que ia comer sozinha uma caixa de cerejas inteira, depois de as fotografar e enviar as imagens para o Brasil.
Comprei a três euros e trinta, aqui em Lisboa, no sábado, enquanto uma adolescente, chocada, interpelava outra que usava a balança no supermercado:
- Vais gastar todo o dinheiro que tens em cerejas?

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