«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Imagens da Vida, segundo Hua Yan




Perto do fim da tese, encontro de noite uma vespa enorme sobre a minha almofada, como um chocolate deixado sobre a almofada num quarto de hotel. Não sei ao certo por onde entrou, mas é possível que tenha vindo lá de fora com a roupa acabada de secar. Chamo B., que a obriga a sair pela janela. As vespas são consideradas insectos perigosos, predadores, com um veneno que faz pior do que o das abelhas. Fico um pouco impressionada ao ver um insecto perigoso sobre a minha almofada, como se pudesse ter saído de dentro da minha cabeça ou estar à espera para entrar nela.

Não se pode dizer que a vespa seja um insecto bonito. Não há um número esmagador de representações pictóricas de vespas. Se quisermos imagens em que vespas desempenham um dos papéis principais, provavelmente precisamos de recorrer à arte asiática.






Hua Yan pintou imagens de um ninho de vespas e de uma vespa a incomodar um tigre. Na aguarela com o ninho,  representou também um ramo de cássias em floração outonal atraindo um grande número destes insectos. Segundo os comentadores, a aguarela com o ninho transfigura um assunto banal numa imagem de pura liberdade.

 
Na noite do último dia do ano em que terminei a tese, trouxe no cabelo uma abelha para dentro de casa, sem saber. O insecto tombou sobre a secretária com um baque surdo quando eu estava a escrever um email qualquer. Levámo-la para o parapeito da janela dentro de um copo de onde ela não quis sair. Na manhã do primeiro dia do ano encontrámo-la morta.

 
Recentemente ouvi uma história em que alguém deu mel a uma abelha moribunda que lhe apareceu dentro de casa. A abelha morreu mesmo assim, mas pouco depois o contador da história verificou que mais abelhas acorriam à sua casa, em busca de mel.





Uma das imagens mais belas do álbum Imagens da Vida, de Hua Yan, é de uma tartaruga. À primeira vista, dado que o fundo da aguarela se apresenta propositadamente vazio, a tartaruga parece estar invertida, em posição desconfortável, quase de risco de vida. Depois se percebe que afinal está a nadar livremente, numa situação da maior felicidade.


 

 





 


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