Em 2015,
ano em que terminei e defendi a tese de doutoramento, li dois livros publicados por editoras portuguesas sobre
temas relacionados com os tópicos que tratei. Vão a seguir os textos que
escrevi sobre eles.
«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk
segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
Curiosidade
Alberto
Manguel. 2015. Uma História da Curiosidade. Trad. Rita Simões. Lisboa:
Tinta-da-China.
O novo
livro de Alberto Manguel, ensaísta e romancista canadiano de origem argentina,
intitula-se Uma História da Curiosidade
(Curiosity é o título original). O
primeiro conceito de curiosidade que o autor explora relaciona-se com a noção
de interrogação. Ao longo do livro, adicionalmente, somos presenteados, aqui e
ali, com uma segunda acepção de curiosidade, a de informação rara ou
interessante.
De acordo
com Manguel, «porquê» é uma das primeiras palavras que aprendemos. Citando
Jung, o autor descreve as pessoas como «uma pergunta dirigida ao mundo». Todos
os capítulos de Uma História da
Curiosidade ostentam uma pergunta no título: por exemplo, «Quem sou eu?»,
«O que fazemos aqui?», «Como questionamos?», «O que podemos possuir?», «Onde é
o nosso lugar?», ou «O que nos distingue?» Para abordar estas perguntas,
Manguel muitas vezes refere e comenta elementos pouco conhecidos, que vão desde
uma das ocorrências mais antigas de um ponto de interrogação num documento
agora na Biblioteca Nacional de Paris, a objectos raros de museus, citações de
outros livros, ou peripécias mais intrigantes da vida de personalidades mais ou
menos obscuras, como Paul Otlet, Isabella d’Este, Cassiano dal Pozzo ou Robert
Oppenheimer. Contudo, a referência principal de Manguel para abordar as
perguntas a que mais lhe interessa responder são os livros.
Para
Manguel, expressa através de palavras, oralmente ou na escrita, a curiosidade
identifica e consolida o interesse das pessoas pelo que as rodeia, ao mesmo
tempo que as liga às outras pessoas. De acordo com o autor, «[i]nventamos
histórias para dar forma às nossas perguntas; lemos ou ouvimos histórias para perceber
o que queremos saber [...] somos levados pelo mesmo impulso questionador, pelas
perguntas de quem fez o quê, e porquê, e como, para que possamos, por nossa
vez, perguntar a nós próprios o que fazemos e como e porquê, e o que acontece
quando se faz ou não se faz alguma coisa.»
A
concepção de humanidade de Manguel é indissociável da leitura, da literatura e
das palavras. Segundo Manguel, uma das experiências mais comuns na vida dos
leitores é «a descoberta, mais tarde ou mais cedo, de um livro que permite,
como nenhum outro, explorar o nosso eu e o mundo de uma forma que nos parece
inesgotável» (p. 13). O autor explica que ele próprio já recorreu a livros
diferentes (os Ensaios de Montaigne, Alice no País das Maravilhas, as ficções
de Borges, o Dom Quixote, As Mil e Uma
Noites ou A Montanha Mágica) para
esse fim, mas nesta fase da vida o texto que lhe parece mais rico e expressivo
é A Divina Comédia, de Dante, obra
que constitui o eixo principal de Uma
História da Curiosidade.
Manguel
observa que Dante está sempre em diálogo e que a Divina Comédia se organiza em torno das perguntas de Dante. Além
disso, recorda que, na Divina Comédia,
a questão da relação da humanidade com a linguagem – com todas as suas funções,
mas também limitações – é crucial. Em Uma
História da Curiosidade, a linguagem é descrita como o instrumento
imprescindível de relacionamento das pessoas uma com as outras e com tudo o que
as rodeia. Ao mesmo tempo, é descrita como uma espécie de escada que se põe de
parte depois de se chegar à quilo que ela própria é incapaz de abranger: «A
linguagem, como sabemos, é a nossa ferramenta de comunicação mais eficaz, mas,
ao mesmo tempo, um impedimento à nossa compreensão total. Mesmo assim, como
Dante aprende, é necessário passar pela linguagem para chegar àquilo que não
pode ser transposto em palavras.» (pp. 82-83). A metáfora que uso aqui é
obviamente wittgensteiniana, apesar de (neste livro, pelo menos) Wittgenstein
não ser identificado como um dos heróis de manguel.
Ao mesmo
tempo que permite contemplar esta tensão entre as palavras e certas
experiências, a Divina Comédia chama
a atenção para a visão panorâmica inerente ao uso da linguagem: «a nossa
relação com a linguagem é sempre uma relação com o passado, e também com o
futuro. Quando nos servimos das palavras, servimo-nos da experiência acumulada
antes de nós nas palavras; servimo-nos da multiplicidade de significados
aramazenados nas sílabas que empregamos para tornar a leitura do mundo
compreensível para nós e para os outros. Os usos que precederam o nosso
alimentam e alteram, sustentam e debilitam o nosso uso presente: sempre que
falamos, falamos com muitas vozes, e mesmo a primeira pessoa do singular é
plural.» (p. 325).
De acordo
com esta perspectiva, as palavras são um recurso para, tal como Dante na Divina Comédia, falarmos como e com não só os mortos
(estatuto de que todos partilharemos), mas também como e com os vindouros.
Manguel sublinha que, tal como na Divina
Comédia, através do diálogo, Dante é simultaneamente «contaminado e
redimido por aquilo que os outros fazem e por aquilo que os outros são» (p.
186), também nós nunca estamos sozinhos quando usamos as palavras; estamos
sempre a pensar com os que as usaram antes e usarão depois de nós. Pelo mesmo
motivo, a leitura é descrita como arte infinita: «Mesmo se todas as sílabas de
um texto fossem analisadas e
interpretadas até à sua extensão máxima, o leitor obstinado continuaria a ter
as leituras dos que os precederam e que, como as pegadas dos animais no bosque,
formam um texto cuja narrativa e significado também estão abertos a análise
minuciosa.» (p. 106)
No
contexto actual da crise dos refugiados, os passos de Uma História da Curiosidade sobre o exílio adquirem um significado
especial. Na Divina Comédia, a figura do
exilado está presente a partir tanto do autor (por motivos políticos, Dante foi
condenado ao exílio de Florença) como do narrador (Dante está vivo e percorre o
mundo dos mortos). Em passos comoventes sobre a noção de exílio (a meta
impossível do exilado é precisamente o lugar que lhe está interdito, p. 228),
Manguel recorda também que observou que os habitantes do Inferno têm «uma
estranha parecença com imigrantes exilados [...]. Os fragmentos das suas
histórias, as suas efusões sentimentais, os acessos de cólera, as notícias
políticas de ambos os lados, a sua sede de informação, os seus últimos desejos,
tudo parece vir da mesma argila e do mesmo povo.» (p. 227). Outro momento alto
do livro são os passos sobre «os que vivem por suas mãos» no capítulo «O que
podemos possuir?» Manguel reflecte sobre a representação artística de
trabalhadores ao longo dos tempos, referindo desde a figura de Marta na Bíblia
(a irmã de Lázaro que se preocupa com o jantar de Jesus, enquanto Maria é
elogiada por ficar aos seus pés), passando por representações pictóricas de
ferreiros ou pescadores na Idade Média, os ofícios dos livros de Horas, certas
figuras minúsculas de Brueghel, os modelos populares controversos a que
Caravaggio recorria para representar figuras religiosas, até aos lavradores,
costureiras e lavadeiras dos impressionistas ou trabalhadores das fotografias
de Sebastião Salgado, que recordam a descrição dantesca das almas condenadas
nas margens do Aqueronte.
Em suma, Uma História da Curiosidade é ao mesmo
tempo um livro pessoal, na medida em que lida com as interrogações mais
urgentes do seu autor, e um livro enciclopédico e universal, que nos informa,
diverte e comove. Não deve ser lido em busca de revelações e análises profundas
das questões abordadas, mas antes como uma espécie de catálogo ou de compilação
de informações e reflexões sobre livros que, porque pareceram interessantes e
significativas para o autor, ele quis partilhar com os outros. Neste livro, não
há argumentação complexa nem reflexão aprofundada, mas sim um conjunto de
observações anotadas por prazer – prazer de ler, prazer de viver e prazer de
comunicar. Interessa ao autor não
propriamente retirar conclusões, mas sim continuar a interrogar, por muito
fácil, vazio ou gratuito que isso possa parecer. Nisto reside ao mesmo tempo a
maior virtude e a maior fraqueza do livro.
Hotel
Paulo
Varela Gomes. 2014. Hotel. Lisboa:
Tinta-da-China.
Nos
últimos anos, Paulo Varela Gomes (n. 1952, especialista em História da
Arquitectura e da Arte) publicou os romances O Verão de 2012 (2014), Hotel
(2014), Era Uma Vez em Goa (2015),
assim como o livro de crónicas Ouro e
Cinza (2014). Aproveitamos a atribuição do prémio PEN Narrativa 2015 a Hotel para recuperar este excelente
romance e reflectir um pouco sobre o autor.
No cerne
de Hotel está a ideia de que as
pessoas, o espaço e a sociedade funcionam como uma espécie de hipertexto ou
ponto de entrecruzamento de várias referências históricas e culturais. O
protagonista (Joaquim Heliodoro), o espaço principal do romance e as suas
histórias representam este cruzamento de referências, num livro inteligente e
divertido que concretiza a ideia de que as vidas e as histórias das personagens
são indissociáveis de tudo o que as rodeia do ponto de vista material (espaço,
objectos, outras pessoas) e cultural (livros, filmes, internet). Neste romance
nenhum elemento pode ser compreendido sem apelo a uma vasta rede de
informações, ainda que estas informações não se revelem suficientes para
assegurar tal compreensão.
A
descrição de hipertexto – «aquele dispositivo que a internet reinventou e
aperfeiçoou através do qual quase todos os conceitos e nomes presentes num
texto remetem para outros nomes e conceitos, e assim sucessivamente, numa teia
infinita ao longo da qual o sentido se perde definitivamente» (p. 169) – é
explicitamente relacionada com os gabinetes de curiosidades do Renascimento e
com as notas de rodapé dos ensaios académicos. De acordo com o narrador de Hotel, o circuito de remissões de uma
coisa para outra partilhado pelo hipertexto e pelos gabinetes de curiosidades
traduz um mecanismo universal da percepção humana.
O espaço
principal do romance, o hotel que o protagonista, depois de «ganhar o
euromilhões», remodelou de acordo com os seus caprichos pessoais e com as
teorias que desenvolveu a partir de inúmeras estadias em hotéis de todo o
mundo, representa o mesmo entrecruzamento de caminhos: «Lembrou-se de que
praticamente nenhum dos muitos aposentos e espaços do hotel tinha apenas uma
porta de acesso ou saída, todos pareciam, quando neles se entrava, o início de
um percurso» (p. 166).
Tal como
o espaço que habita e que recriou, visitado por várias personagens peculiares,
o próprio protagonista é descrito por outras personagens através de um conjunto
de referências culturais entrecruzadas: «uma pessoa do final do século XVIII,
vestida à maneira do século XIX e teleportada para o século XX […] Margareta
retorquiu que do século XVIII Joaquim Heliodoro só teria o lado mais ferozmente
realista, a libertinagem, mas tudo o resto lhe parecia resultar da
auto-repressão empertigada da sociedade burguesa triunfante» (p. 165).
À
semelhança da arquitectura do hotel em que se desenrola, não só a arquitectura
do romance é deliberadamente visível e exposta, como quer a própria intriga,
quer a densidade do protagonista,
dependem da revelação gradual desta visibilidade. A arquitectura do romance é
exibida através da integração de citações, digressões de tom ensaístico,
transcrições de livros pornográficos, referências a lendas ou outras
manifestações de cultura popular e até, no capítulo intitulado «Desencontros e
conjugações» (pp. 219-229), da divisão da narração em três colunas por página.
A ideia
da relação estreita entre a mente humana e o espaço articula-se com o voyeurismo,
o outro tema importante do romance. O narrador explica: «a escopofilia,
diferentemente de outras orientações sexuais, resulta directamente das
características do espaço que separa o olhador do objecto olhado, do modo como
a luz ilumina certos lugares e se afasta de outros, das dimensões e disposições
dos vãos e aberturas, dos caminhos que se percorrem (as passagens) até ao lugar
do olhar, os corredores desertos, as salas silenciosas, quer dizer, a
escopofilia é uma pulsão arquitectónica e arquitectada, a ponto de o lugar
(como temos vindo a verificar no hotel de Joaquim Heliodoro) adquirir uma
intensidade erótica que subsiste muito para além do olhar, a ponto de o lugar
poder substituir o próprio objecto do olhar e ser a cena que, mesmo vazia, provoca
o desejo» (p. 112).
Em Hotel, o autor e o protagonista podem
ser descritos como arquitectos de desejos que envolvem nas suas construções
tanto os leitores como as personagens. As observações sobre o voyeurismo são observações sobre a leitura. O voyeurismo das personagens vai-se confundindo
com o voyeurismo dos leitores. A arquitectura do hotel torna-se indistinta da
arquitectura do livro; ambos dependem da interacção – com os hóspedes e os
leitores: «acabada a obra,
Joaquim Heliodoro compreendia que a vida do hotel enquanto obra de arte
dependia agora dos hóspedes, a poesia com que esta obra o embalara ao pensá-la
e ao construí-la provinha daquilo que os hóspedes lhe contassem, dos sítios por
onde passassem ou se detivessem a ler ou a devanear, das emoções que pudessem
experimentar, da alegria com que regressassem e da melancolia com que se
despedissem» (p. 153).
Talvez o
elemento menos conseguido de Hotel se
deva à circunstância de todas as personagens funcionarem como notas do rodapé
do protagonista, ele próprio um assumido apreciador deste tipo de comentário.
Sem densidade, aparecem como simples presenças, desligadas do seu presente e do
seu futuro, como se reconhece perto do fim do romance a propósito de Manuela, o
par ficcional do protagonista. Contudo, mesmo esta falta de densidade das
personagens secundárias concretiza a ideia principal do romance: todos somos
lugares de passagem (tópico que, aliás, será desenvolvido no próximo romance do
autor, intitulado precisamente Passos
Perdidos).
Pelo
sentido de humor, pelo cosmopolitismo invulgar das suas personagens, pela
diversidade das referências culturais que consegue articular sem
pretensiosismos nem exibição gratuita de erudição, pela capacidade de explorar
uma zona intermédia entre o romance e o ensaio em que as referências culturais
estão ao serviço da narrativa em vez de a desequilibrar, pelo facto de nos
recordar que a vida e as actividades de ler, escrever ver filmes, viajar e
pensar podem ser muito mais interessantes quando são indissociáveis, Paulo
Varela Gomes ocupa um lugar único na literatura portuguesa contemporânea.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
O Cinéfilo Preguiçoso em Novembro
30.11.2015 She's Funny That Way e Steve Jobs (real. Peter Bogdanovich, 2014; real. Danny Boyle, 2015)
23.11.2015 Right Now, Wrong Then (real. Hong Sang-Soo, 2015)
16.11.2015 Trois souvenirs de ma jeunesse e A Academia das Musas (real. Arnaud Desplechin, 2015; real. José
Luis Guerín, 2015)
8.11.2015
As Irmãs Brontë (real. André Téchiné, 1979)
2.11.2015 Le Saphir deSaint-Louis e The Outrage (real. José Luis Guerín, 2015; real. Marc Karlin,
1995)
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
O Cinéfilo Preguiçoso em Outubro
25.10.2015 As Mil e Uma Noites: Volume 3, O Encantado (real. Miguel Gomes, 2015)
19.10.2015 Caprice (real. Emmanuel Mouret, 2015)
12.10.2015 5 x 2 (real. François
Ozon, 2004)
terça-feira, 29 de setembro de 2015
Rebecca Solnit
Aproveitando a saída
em português do livro The Faraway Nearby (publicado pela Quetzal com o título
Esta Distante Proximidade) para homenagear modestamente a ensaísta Rebecca Solnit, escrevi sobre um livro mais antigo, mas de que gosto muito, intitulado A Field Guide to Getting
Lost.
Para um excelente
ensaio de Rebecca Solnit, publicado no número de Outubro deste ano da Harper’s
Magazine: The Mother of All Questions.
(Nota: o
texto pode ser lido na íntegra, mas tem de se clicar página por página.)
Na
primeira secção de A Field Guide to
Getting Lost, Rebecca Solnit revela que o ponto de partida deste livro foi
uma citação descontextualizada do diálogo Ménon,
de Platão, que uma aluna trouxe um dia para um workshop. Nesta
citação perguntava-se: «How will you go about finding that thing the nature of
which is totally unknown to you?» (p.
4). Como procurar o que desconhecemos totalmente ao ponto de não dispormos
sequer dos meios para o identificar? De acordo com Rebecca Solnit, é importante
responder a esta pergunta porque aquilo que desconhecemos totalmente pode ser
precisamente o que mais falta faz descobrir. Na estação em que a Quetzal
publica em português o livro The Faraway
Nearby (ver recensão de Maria Rita Furtado nesta secção), recuperamos um
livro anterior de Rebecca Solnit.
O que
Solnit diz sobre os tópicos que aborda em A
Field Guide to Getting Lost (do azul nas telas de alguns pintores do
Renascimento, a Yves Klein, passando por Vertigo,
de Hitchcok, entre mais histórias de pessoas perdidas e reencontradas) parece
menos importante do que aquilo que a partir destes assuntos sugere. Este livro
progride numa corrente subterrânea de reflexões que, através de repetições,
formulações deceptivamente light e reformulações ou recuperações discretas, vão
construindo em acto, de modo indirecto e musical, um argumento acerca da
própria actividade de escrever um ensaio.
Para
descobrir o que faz mais falta, Solnit propõe que, tal como ela, aceitemos ou
encontrarmo-nos depois de nos termos perdido ou encontrarmos o que foi perdido.
Ainda que nunca referindo directamente o poema «One Art» (salvo minha
distracção), A Field Guide to Getting
Lost parece companheiro do famoso texto em que Elizabeth Bishop recomenda
ironicamente: «Lose something every day.» Enquanto o poema de Bishop
corresponde a uma prestidigitação irónica para lidar com a dor da perda, aliada
a uma incitação apócrifa à vida minimalista, o livro de Solnit, ainda que
partindo da mesma constatação de que a natureza das coisas e das pessoas é
perder-se («It’s in the nature of things to be lost and not otherwise», p.
185), tenta explorar as possibilidades quer da perda quer da situação de estar
perdido.
Estar
perdido, em A Field Guide to Getting Lost,
assume duas acepções principais (pp. 22-33). 1) Uma pessoa pode perder-se num
contexto desconhecido, tendo necessidade de prestar atenção a tudo para obter
algum tipo de conhecimento e de orientação, como no caso dos navegadores que
acharam terras ainda não cartografadas, com plantas, animais, pessoas, objectos e até conceitos para os quais não
tinham sequer vocabulário a que recorrer para organizar as novas percepções. 2)
Uma história, um objecto, um percurso, uma memória podem desaparecer, deixando
as pessoas (a que pertenciam ou não) num contexto em que tudo é familiar menos
a ausência do que se perdeu.
Porque se
relaciona com a memória, o segundo tipo de ausência deve ser descrito através
de graus. É possível recordar o que se perdeu durante algum tempo com maior ou
menor pesar. O que se perdeu pode igualmente ser esquecido aos poucos, até se
desvanecer. Mesmo quando tudo indica que foi totalmente esquecido pelo proprietário,
pelos intervenientes, pelas testemunhas, mesmo que até estas tenham
desaparecido, há a possibilidade de (o objecto, a história, o percurso)
reaparecer. A este caso pertencem situações em que são redescobertos elementos
do passado de uma paisagem ou de um contexto: histórias sobre acontecimentos
que ali tiveram lugar ou funções desempenhadas nesse espaço, cemitérios
esquecidos, rios subterrâneos, pessoas que ali passaram ou moraram.
Perder-se,
perder coisas, encontrar coisas perdidas, esquecidas ou subterrâneas, na medida
em que correspondem a situações que convocam a maior atenção, funcionam como
descrições da escrita de ensaio. À semelhança das pessoas que perderam coisas,
também os ensaístas se encontram frequentemente num contexto familiar em que se
destaca uma ausência por vezes dificilmente perceptível, mas que é preciso
explorar. À semelhança das pessoas que se perderam, os ensaístas dão por si num
território desconhecido em que se vêem obrigados a adquirir ou forjar novo
vocabulário ou novas ferramentas para se poderem orientar.
Como
Solnit sugere noutro dos seus livros (Wanderlust:
A History of Walking) quando se refere à sua própria motivação para
escrever, redige-se um ensaio para abrir um caminho novo através da imaginação
ou chamar a atenção para elementos impensados num percurso supostamente familiar.
Num dos passos mais importantes de A Field Guide to Getting Lost, Solnit
descreve a escrita de ensaio ou de não-ficção por oposição à escrita de
ficção: «Nonfiction seems to me
photographic; it poses the same challenge of finding form and pattern in the
stuff already out there and the same ethical obligations to the subject.
Fiction like painting lets you start with a blank canvas […] (In essays, ideas
are the protagonists, and they often develop much like characters down to the
surprise denouement.)» (p.
144). Enquanto o autor de ficção pode começar do nada se assim o desejar,
fabricando personagens, contextos e situações, cabe ao autor de não-ficção ou
ao ensaísta, à semelhança do que se verifica na actividade de um fotógrafo,
encontrar formas e padrões no que existe, desenvolvendo ideias como o autor de
ficção desenvolve personagens. As ideias são as personagens do ensaísta.
A propósito da beleza, Solnit observa o seguinte: «Beauty is often spoken of as though it
only stirs lust or admiration, but the most beautiful people are so in a way
that makes them look like destiny or fate or meaning, the heroes of a
remarkable story. Desire for them is in part a desire for a noble destiny, and
beauty can seem like a door to meaning as well as to pleasure.» (p. 96). Também este passo sobre a beleza se aplica à arte do ensaio. Assim
como a beleza de alguém pode ser associada à sua capacidade de ser protagonista
do próprio destino, escrever um ensaio, uma actividade de captação da beleza
segundo Solnit, corresponde a identificar os protagonistas de determinado
assunto, revelando o destino ou as relações de significado perdidas dos
assuntos estudados. Cabe-nos a nós, enquanto autores ou leitores de ensaios,
decidirmos que assuntos se tornarão os protagonistas da nossa vida.
É uma
questão de movimento e de atenção, dois dos tópicos mais importantes nos livros
da ensaísta e activista Rebecca Solnit. Como se verifica noutros livros desta
autora, por vezes os protagonistas que com mais clareza ajudam a explicar
determinada questão são inesperados e é preciso muita atenção para não os
deixar escapar. Neste e noutros livros, o mais valioso do trabalho de Solnit
reside na atenção ao que outros ignoram ou deixam passar.
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
O Cinéfilo Preguiçoso em Setembro
28.9.2015 As Mil e Uma Noites: Volume 2, O Desolado (real. Miguel Gomes, 2015)
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Quartos Alugados
Para um
texto realmente interessante sobre Quartos Alugados, ler o excelente prefácio
da Cristina. Como, no entanto, acredito que só somos felizes se pudermos
expressar e partilhar o nosso interesse pelas pessoas e coisas importantes para
nós, também quero dizer umas palavrinhas sobre o livro, apontando para as
características que me parecem mais invulgares. (Outros valorizarão elementos
diferentes.)
Quartos Alugados é um livro que se distingue
por ter uma voz narrativa absolutamente única.
Reúne nove
contos, escritos num português belíssimo, sem rodriguinhos estilísticos e
gramaticais supostamente originais ou idiossincráticos.
Como o
próprio autor salientou no lançamento do Porto, a noção de «quarto alugado»
deve ser relacionada com personagens numa fase de transição: aluga-se um quarto
porque ainda não se pode ter uma casa. Estes contos situam-se em lugares de
passagem. As palavras e as acções destas personagens poderiam ser descritos
como ensaios e tentativas pouco conseguidas de quem está a aprender a viver.
Uma característica marcante do livro, se calhar aquela que mais suscita a perplexidade e a surpresa do leitor, é o fraco investimento na psicologia das personagens. Não se pode sequer dizer que as acções das personagens manifestam ou concretizam a psicologia destas. As acções parecem cumprir rituais estranhos, realizados para permitir que os protagonistas de algum modo se inscrevam na existência, apesar da leveza e da indefinição que os caracterizam. Por exemplo, no conto «Rua da Velha Lanterna», um dos meus textos preferidos deste volume, o protagonista, deambulando por Paris, leva a cabo uma estranha missão que consiste em desenhar cuidadosamente os lugares em que cinco escritores se suicidaram, e depois, disfarçado de cego, inserir estas cinco imagens entre as páginas de livros de bibliotecas. Cumprida a missão, o protagonista deixa Paris. Não se sabe o que aconteceu antes nem o que acontecerá depois.
As próprias trocas linguísticas que testemunhamos nestes textos se reduzem a fórmulas enunciadas apenas para que a conversa e a vida possam progredir. Expressões que ouvimos todos os dias por acaso, em conversas ao telemóvel, na rua ou no metro, registadas nestas páginas, exibem toda a sua estranheza ou vacuidade.
Podemos sugerir que estas narrativas se desenrolam um pouco antes do sentido – de tal modo se baseiam na observação e no inventário meticuloso do que é meramente exterior. Gera-se um contraste intrigante entre a insignificância aparente do que está em jogo e o cuidado com que é registado. A cinefilia do autor manifesta-se claramente nesta atenção intensa à superfície das coisas.
Descrevendo a cinematografia de Rohmer, Pascal Bonitzer refere duas noções quase contrastantes: «uma atmosfera de paranóia vaga» e «a ameaça do nada». Em termos simples, a paranóia expressa-se através da atribuição excessiva de sentido a gestos, acções ou acasos. Muitas personagens de Rohmer são absorvidas por interpretações complexas de situações que acabam por revelar-se menos decisivas do que inicialmente pareciam. De acordo com Bonitzer, a obsessão interpretativa das personagens rohmerianas é uma forma de estas responderem à «ameaça do nada» que paira sobre as suas existências: se certos actos tiverem sentido, então há alguma coisa em vez de nada. Por sua vez, os textos de Alexandre Andrade enfrentam directamente a mesma ameaça, mas sem qualquer álibi paranóico. Nestes textos há mais contemplação do que interpretação. O sentido, se existir, virá depois – tanto na vida dos protagonistas, como na vida do leitor.
Talvez o traço distintivo mais importante de um escritor seja persistir em escrever numa voz singular, mesmo que esta seja praticamente inaudível no contexto da barulheira ensurdecedora dos lugares-comuns que nos acossa a todos. É isso que este autor faz todos os dias.
Surpresas da campanha
Antes do
lançamento do livro na Biblioteca Almeida Garrett, lina & nando espalharam
pelas redondezas estes cartazes. (Aqui temos uma imagem na Rua Júlio Dinis, com
um percurso que eu própria fiz diariamente durante vários anos para ir
trabalhar.)
Além de
explorar a ligação do título Quartos Alugados com as actividades das agências e
dos proprietários de imobiliário, o cartaz incluía frases dos contos com
descrições dos quartos ocupados pelas personagens. O transeunte que se
aproximasse podia destacar estas citações como quem destaca um número de
contacto.
Coisas que só acontecem no Porto.
Avesso
Quartos
Alugados é o segundo volume publicado da Colecção Avesso, coordenada pelo Rui Amaral para a editora Exclamação.
O
primeiro volume desta colecção é Notícias em Três Linhas, de Félix Fénéon, com
tradução do Manuel Resende. Como fiquei ligeiramente horrorizada quando me
revelaram o baixo número de vendas deste primeiro volume, deixo aqui também a
referência, porque merece muito mais atenção das
pessoas que compram e lêem livros.
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
No próximo sábado
Já desejei muitas vezes que houvesse para cada pessoa um número limitado de viagens possíveis entre Lisboa e Porto. Cumprido esse número, as pessoas teriam de ficar na cidade onde no momento se encontrassem, sem qualquer possibilidade de mais viagens para a frente e para trás.
Alimento a esperança secreta de estar no Porto quando o meu número chegar ao fim.
segunda-feira, 27 de julho de 2015
O Cinéfilo Preguiçoso em Julho
27.7.2015 A Essência do Amor (real. Terrence Malick, 2012)
20.7.2015 Dois Dias, Uma Noite (real. Luc e Jean-Pierre Dardenne, 2014)
6.7.2015 As Nuvens de Sils Maria (real. Olivier Assayas, 2014)
segunda-feira, 29 de junho de 2015
O Cinéfilo Preguiçoso em Junho
1.6.2015
National Gallery (real. Frederick Wiseman, 2014)
15.6.2015
Enquanto Somos Jovens (real. Noah Baumbach, 2014)
22.6.2015 The Royal Tenembaums (real. Wes Anderson, 2001)
29.6.2015 Um Pombo Pousou Num Ramo a Reflectir na Existência (real. Roy Andersson,
2014)
segunda-feira, 1 de junho de 2015
O Cinéfilo Preguiçoso em Maio
25.5.2015 O Grande Museu (Johannes Holzhausen, 2014)
11.5.2015 O Passado e o Presente (Manoel de Oliveira, 1971)
5.5.2015 Whit Stillman no IndieLisboa
segunda-feira, 11 de maio de 2015
Especulação
O romance
Dept. of Speculation, de Jenny Offill
(n. 1968), foi uma referência constante nas listas dos melhores livros de 2014.
É um romance narrado por uma personagem feminina que tenta conciliar os papéis
de escritora, mulher (esposa) e mãe, no qual se conta o desenvolvimento de uma
relação, desde o início, com passagem pela decisão de casar e ter um filho, até
uma crise do casamento desencadeada por uma infidelidade do marido. Em Portugal
este livro será publicado em 2015 pela Relógio d’Água.
Descrito
desta forma, Dept. of Speculation
parece um romance semelhante a muitos outros. Contudo, apesar de pecar por não
conseguir libertar-se completamente de alguns lugares-comuns mais gastos da
ficção tradicional (além do tópico do adultério, a transição da vida urbana
para a vida suburbana, mas também a preocupação de contar uma história «de
interesse humano» em que é possível identificar princípio, meio e fim), Dept. of Speculation é um romance
corajoso, original e único graças à organização formal e à narração a partir de
parágrafos aforísticos e epigramáticos que surpreendem pela intensidade lírica
e conceptual.
A noção
de «especulação» está presente logo a partir do título: esta especulação é
existencial, literária e filosófica. O romance destaca-se pela capacidade
singular de narrar estes conflitos e as suas pequenas histórias a partir de
parágrafos curtos mas dotados de uma densidade que os aproxima do ensaio breve
e da poesia. Alguns destes parágrafos comentam referências culturais, factos,
episódios ou citações literárias e filosóficas com uma ironia que se reflecte
sobre o enredo principal: «My plan was to never get married. I was
going to be an art monster instead. Women almost never become art monsters
because art monsters only concern themselves with art, never mundane things.
Nabokov didn’t even fold his umbrella. Vera licked his stamps for him.» (p. 8).
Uma
distinção interessante de Dept. of
Speculation em relação a livros que tratam tópicos parecidos é a fase da
vida que a narradora atravessa, entre a juventude e a velhice. À tradição
fascinada pelas ilusões e pelas instabilidades das mulheres jovens, Offill opõe
a rotina e os compromissos da idade adulta, com os ressentimentos e frustrações que lhe estão
associados. Apesar disso, não perde de vista nem a urgência de viver e de escrever
da protagonista, nem o modo como esta urgência se vai tornando cada vez mais
preciosa ao longo da vida.
Talvez a
maior proeza do livro de Jenny Offill seja o modo como a narradora articula as
funções de escritora, mulher (adulta e esposa) e mãe na enunciação: os papéis
de mulher e mãe são desempenhados enquanto escritora; não há uma fronteira
decisiva entre a vida quotidiana e a vida literária. Não se escreve de modo
diferente por se ser mulher e mãe, mas vive-se de modo diferente por se ser
escritora, tal é o esforço constante de fazer sentido da existência quotidiana
que esta condição implica. O impulso de fazer sentido exerce-se tanto sobre os
textos lidos e escritos pela narradora como sobre os episódios e pormenores
mais insignificantes da vida quotidiana. A dificuldade de escrever é descrita
como equivalente da dificuldade de viver e sobreviver. Neste sentido, “Mother
Courage”, o título do texto que James Wood publicou na revista New Yorker sobre este livro de Jenny
Offill, é um pouco redutor. Se Dept. of
Speculation tivesse um narrador e autor do sexo masculino, dificilmente
alguém se lembraria de escolher “Father Courage” como título de uma recensão do
livro. (Não estou a dizer que o trocadilho brechtiano foi escolhido com
intenções discriminatórias, mas sim que, por vários motivos, o problema dos
sacrifícios inerentes à paternidade raramente é sublinhado como tema principal
de um livro com um autor do sexo masculino.)
No seu
próprio site (http://jennyoffilll.com/), Jenny Offill publicou uma lista dos
livros que considera influências próximas e distantes deste romance. Entre
estes inclui autores como o Fernando Pessoa do Livro do Desassossego, Renata Adler, Maggie Nelson, Robert Walser,
John Berryman, Lydia Davis, Kafka, Mary Ruefle e Anne Carson. É fácil perceber
que se trata de uma família de autores que cultivaram ou cultivam formas curtas
e intensas. Jenny Offill aproxima-se destes escritores pela capacidade de
condensar ideias de modo simultaneamente lírico e racional. Distingue-se, no
entanto, pelo imposição de uma corrente narrativa capaz de inspirar o leitor a
relacionar estes parágrafos num enredo
coerente.
Se
quisermos convocar uma família de escritores contemporâneos totalmente
diferentes, podemos pensar em nomes como Elena Ferrante ou Karl Ove Knausgaard,
autores torrenciais que não têm como preocupação principal desenvolver uma
reflexão distanciada sobre os acontecimentos que estão a narrar, procurando
antes expor e explorar pormenores
concretos e emocionais mais imediatos. Pelo contrário, Jenny Offill, à
semelhança de Maggie Nelson e de Sarah Manguso, trabalha descrições depuradas e
intensas de estados de espírito, usando a reflexão quer sobre incidentes
existenciais, quer sobre citações ou anedotas filosóficas ou literárias, como lente
através da qual a narração avança.
As
maiores diferenças de Sarah Manguso e de Maggie Nelson relativamente a Jenny
Offill residem, no caso das duas primeiras, tanto numa secundarização das
preocupações narrativas do registo ficcional como na escolha de temas menos
convencionais: Sarah Manguso publicou livros sobre a sua experiência de uma
doença crónica auto-imune (The Two Kinds
of Decay), sobre a sua reacção ao suicídio de um amigo (The Guardians) e sobre a experiência de
escrever um diário (Ongoingness: The End
of a Diary); entre outros, Maggie Nelson escreveu um livro que se organiza
a partir de parágrafos sobre a cor azul (Bluets).
Manguso e Nelson são, portanto, escritoras mais difíceis de classificar e até
de divulgar.
Aliás,
Sarah Manguso e Maggie Nelson não estão traduzidas em Portugal e não é fácil
nomear escritores portugueses contemporâneos pertencentes à mesma família.
Alguma prosa poética portuguesa actual tende a acentuar vertentes mais líricas,
sem investimento verdadeiramente reflexivo nem grandes preocupações narrativas.
Dir-se-ia que certos textos de Adília Lopes trabalham o mesmo registo dos de
Jenny Offill, mas de modo mais desleixado ou, se quisermos, mais lúdico e
deliberadamente ingénuo. Por este motivo, Adília Lopes é uma escritora
muito diferente de Jenny Offill.
quinta-feira, 23 de abril de 2015
O Cinéfilo Preguiçoso
Desde fins de Dezembro de 2014, eu e o Alexandre
temos estado a publicar um registo semanal das nossas aventuras
cinematográficas.
27.4.2015 La Sapienza e Une Histoire Américaine (Eugène Green, 2014; Armel Hostiou, 2015)
21.04.2015 Carta de Uma Desconhecida (Max Ophüls, 1948)
14.04.2015 Roma, Cidade Aberta e Paisà (Roberto Rossellini, 1945; Roberto Rossellini, 1946)6.04.2015 Na morte de Manoel de Oliveira
1.04.2015 The Outsiders (Francis Ford Coppola, 1983)
4.03.2015 Waking Life (Richard Linklater, 2001)
16.03.2015 L’Amour Est Un Crime Parfait (Arnaud e Jean-Marie Larrieu, 2013)
9.03.2015 Big Eyes (Tim Burton, 2014)
2.03.2015 Ida (Pawel Pawlikowski, 2013)23.02.2015 Inherent Vice (Paul Thomas Anderson, 2014)
17.02.2015 The Future (Miranda July, 2011)
9.02.2015 Topsy-Turvy (Mike Leigh, 1999)
2.02.2015 The Theory of Everything (James Marsh, 2014)
27.01.2015
O Jogo da Imitação e Debaixo da Pele (Morten Tyldum, 2014; Jonathan Glazer, 2013)
9.01.2015
Sono de Inverno (Nuri Bilge Ceylan, 2014)
12.01.2015
Adeus à Linguagem (Jean-Luc Godard, 2014)
4.01. 2015 Mr. Turner (Mike Leigh, 2014)
29.12.2014
Tokyo Twilight e E Agora? (Ozu, 1957; Joaquim Pinto, 2013)
22.12.2014 Boyhood (Richard Linklater, 2014)
16.12.2015 Lamentações gerais e Saint Laurent (Bertrand Bonello, 2014)
16.12.2015 Lamentações gerais e Saint Laurent (Bertrand Bonello, 2014)
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