Série Old
Filth, de Jane Gardam
Em 2012
Jane Gardam apareceu na lista das minhas leituras preferidas do ano, com
Crusoe’s Daughter (1985), romance que, com todas as suas imperfeições, agora incluo
na lista dos livros da minha vida. Em 2014 Jane Gardam aparece aqui
devido aos três volumes da série Old Filth: Old Filth (2004), The Man in the
Wooden Hat (2009), e Last Friends (2014).
Estamos habituados a livros que contam a mesma história na perspectiva de diferentes narradores, um mecanismo já bastante gasto e frequentemente conducente a resultados medíocres. Gardam faz uma coisa ligeiramente diferente. Continua a apresentar versões da mesma história (em torno de um triângulo constituído por Edward Feathers, Elizabeth Feathers e Terry Veneering) mas, em vez de mudar de narrador, em cada volume troca de personagem principal. Deste modo, a perspectiva mantém-se relativamente objectiva e imparcial, mas o leitor vai adquirindo mais informação sobre os acontecimentos. Nos três volumes há dados que nem todas as personagens conhecem, mesmo quando são as personagem principal do volume em que essa informação é fornecida. Devo ao segundo volume desta série uma das maiores surpresas que tive nos últimos anos de leitura. Quase no fim deste livro, já o leitor se distrai um pouco, achando que tudo está esclarecido, começando a pensar no livro a ler a seguir, quando, do modo mais inofensivo que é possível imaginar, ocorre uma revelação que muda radicalmente a percepção moral de uma das personagens.
Estamos habituados a livros que contam a mesma história na perspectiva de diferentes narradores, um mecanismo já bastante gasto e frequentemente conducente a resultados medíocres. Gardam faz uma coisa ligeiramente diferente. Continua a apresentar versões da mesma história (em torno de um triângulo constituído por Edward Feathers, Elizabeth Feathers e Terry Veneering) mas, em vez de mudar de narrador, em cada volume troca de personagem principal. Deste modo, a perspectiva mantém-se relativamente objectiva e imparcial, mas o leitor vai adquirindo mais informação sobre os acontecimentos. Nos três volumes há dados que nem todas as personagens conhecem, mesmo quando são as personagem principal do volume em que essa informação é fornecida. Devo ao segundo volume desta série uma das maiores surpresas que tive nos últimos anos de leitura. Quase no fim deste livro, já o leitor se distrai um pouco, achando que tudo está esclarecido, começando a pensar no livro a ler a seguir, quando, do modo mais inofensivo que é possível imaginar, ocorre uma revelação que muda radicalmente a percepção moral de uma das personagens.
Jane Gardam, felizmente, já revelou que está
interessada em escrever pelo menos mais um volume desta série, no qual Isobel, uma
das personagens mais misteriosas, pode assumir um papel principal. Por mim,
imagino e desejo pelo menos mais um quinto livro para a série, protagonizado pela estranha personagem asiática que se chama Ross or Loss.
In Certain Circles, de Elizabeth Harrower
Sempre que me lembro, leio as
críticas de James Wood na New Yorker. Nem sempre, no entanto, gosto dos livros
de que ele gosta. Vejamos. Karl Ove Knausgaard: depois de ler o primeiro volume de My
Struggle, acho que escreve muito bem, mas é desinteressante para mim; não tenciono ler mais livros desta série Rachel
Kushner: depois de ler The Flamethrowers, acho que escreve mal e é desinteressante.
Elena Ferrante: depois de ler os primeiros dois volumes da série Neapolitan
Novels, ainda não decidi se gosto realmente do que escreve, mas vou ler
todos os volumes desta série. Quanto a In Certain Circles, li este romance de Elizabeth Harrower graças a James
Wood e não só concordo totalmente com a
avaliação dele, como vou tentar ler todos os livros disponíveis desta escritora australiana.
Não podemos gostar todos de igual modo das mesmas coisas.
Não podemos gostar todos de igual modo das mesmas coisas.
Creature, de Amina Cain
Um
excelente livro de contos poéticos publicado pela excelente editora Dorothy, a Publishing Project, um dos projectos editoriais que mais me entusiasmam nos
tempos que correm. (Também li Wallcreeper, de Nell Zink, de que muito se falou.
Este livro não me convenceu por aí além, mas fiquei
interessada em ler mais da mesma autora.)
Bluets, de Maggie Nelson
Um livro sobre escrever poesia em prosa, de
modo racional.
Yiyun Li
Neste
caso, destaco não um livro, mas uma escritora que li pela primeira vez este
ano. Ouvi falar desta escritora chinesa que escreve em inglês
e vive nos Estados Unidos no episódio do excelente podcast Bookworm em que Michael
Silverblatt a entrevistou a propósito do romance Kinder than Solitude. Gostei
tanto de a ouvir que decidi ler tudo o que tivesse escrito. Quem estiver
curioso experimente, por exemplo, ler o conto «Kindness», do livro Gold Boy, Emerald Girl, ou o que ela escreveu aqui sobre um simples passo do romance The Death of the Heart, de
Elizabeth Bowen.
Livros publicados em 2014
Para uma
lista comentada dos livros publicados em 2014 de que mais gostei, ver aqui (página
de Facebook da Forma de Vida).