«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Filmes em 2013

Não se pode dizer que 2013 tenha sido um ano brilhante no que diz respeito aos filmes que estrearam em salas. Felizmente, destacam-se duas ou três excepções, houve reposições essenciais, estão à venda caixas preciosas e a Cinemateca continua a existir.



Os dois filmes que mais gostei de ver em sala foram duas magníficas reposições: Vertigo, de Hitchcock, e Viagem a Tóquio, de Ozu.

Por motivos académicos e por gosto pessoal, já vi mesmo muitas vezes alguns filmes de Hitchcock, entre os quais Vertigo. Não haja dúvida, no entanto, que ver este filme numa sala de cinema a sério revela quase um filme diferente. Temos de proteger os nossos cinemas, meus amigos.

Nunca tinha visto muito Ozu, mas sofri uma conversão instantânea à obra do cineasta quando vi Viagem a Tóquio. Uma das coisas mais admiráveis neste filme é a capacidade do realizador para gerir as diferenças de todos os elementos de uma família, com todas as suas crueldades ou bondades, evitando estereótipos e facilidades.  
 

AS QUATRO ESTREIAS EM SALA DE QUE MAIS GOSTEI


 
Like Someone in Love, Abbas Kiarostami

 
Em comum entre Ozu e Kiarostami encontramos os espaços cheios de objectos que tanto podem facilitar-nos a vida como ser obstáculos ou empecilhos no nosso caminho, fazer-nos perder tempo, ajudar-nos a explicar quem somos e como vivemos, ou até ajudar-nos a fingir que somos quem não somos. Interessam-me filmes que retratam o quotidiano e revelam elementos intrigantes na sua normalidade aparente, fazendo-nos prestar mais atenção à vida de todos os dias. (Não podia estar mais distante das pessoas que acham que o cinema que filma a vida de todos os dias é um não-cinema, como já li a propósito de alguns filmes de Alain Cavalier.)



 The Master, Paul Thomas Anderson

Personagens estranhíssimas, anti-heróicas, que estabelecem entre si relações difíceis de definir. Sobre que é este filme exactamente? Não sei responder nem acho a resposta muito importante.

 

 Frances Ha, Noah Baumbach


Um filme um tanto desequilibrado, com alguns ingredientes irritantes (Nova Iorque a preto e branco, certa ambição de ser o retrato de uma geração) que o transformam numa espécie de clássico instantâneo, Frances Ha consegue, ainda assim, ter momentos que muitos de nós já viveram, com destaque tanto para a sequência da viagem a Paris da protagonista, incluindo o jantar desconfortável que a desencadeia, como a sequência da procura de uma caixa multibanco que funcione quando é mesmo necessário levantar dinheiro.

Não tenho a certeza sobre a ideia, muito discutida a propósito deste filme, de que a dada altura da nossa vida precisamos de aceitar que nunca vamos ser quem queremos ser. De certo modo, seria mais fácil assim, mas não só o que somos e o que queremos ser está sempre em transformação, como também temos de lutar a vida inteira, todos os dias, para percebermos quem somos e quem realmente queremos ser. Não me parece que haja um momento na vida em que  podemos descansar desta tarefa.


 A Rapariga de Parte Nenhuma, Jean-Claude Brisseau

Um filme quase de terror, sobre a morte e outras forças negativas. Nenhum realizador vivo me assusta mais do que Brisseau.


OUTROS
Apesar de haver cada vez mais filmes iguais uns aos outros, totalmente previsíveis, este ano ainda foi possível ver em sala de cinema alguns filmes bastante invulgares.

-Dans la maison, François Ozon
-Stories We Tell, Sarah Polley
-Camille Claudel, Bruno Dumont
-Post Tenebras Lux, Carlos Reygadas
-Holy Motors, Leos Carax
-Fausto, Sokurov
-In Another Country, Hong Sang-Soo
-A Rapariga do 14 de Julho, Antoine Peretjako
-Vénus de Peles, Roman Polanski



 DVD
-Mélo, Alain Resnais
-Vous n’avez encore rien vu, Alain Resnais
-Un homme et une femme, Claude Lelouch
-Madame de…, Max Ophuls
-Bom Dia, Ozu

 




CINEMATECA, FESTIVAIS, ETC.
-Museum Hours, Jem Cohen
-I Walked with a Zombie, Jacques Tourneur
-Cortina Fechada, Jafar Panahi
-La Rencontre, Alain Cavalier
-The Woman in the Window, Fritz Lang

CAIXAS
-Victor Erice
- João César Monteiro

Vejo Erice como cineasta do Norte: do frio, do nevoeiro, da humidade, da luz cinzenta, dos casacos sobre camisolas – e de tudo o que se sente neste tipo de atmosfera que encontramos tanto em El Sur como em O Espírito da Colmeia. Quase fico contente pelo facto de El Sur não ter a secção mais solar e menos melancólica prevista inicialmente.

Nota Tenciono ver mais dois ou três filmes este ano, caso haja tempo e energia. Se for caso disso, essas referências hão-de aparecer aqui.


 

Arquivo do blogue