«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Filmes em 2012

CIRCUITO COMERCIAL
The Girl with the Dragon Tattoo, David Fincher
Le Havre, Kaurismaki
Tabu, Miguel Gomes
Era uma vez na Anatólia, Nuri Bilge Ceylan
Cosmopolis, David Cronenberg
Moonrise Kingdom, Wes Anderson
O Gebo e a Sombra, Manoel de Oliveira

DVD
Le père de mes enfants, Mia Hansen-Love
Beginners, Mike Mills
Ghost Writer, Roman Polanski
Man on Wire, James Marsh
Un étrange voyage, Alain Cavalier
A Toupeira, Tomas Alfredson
Sou um Autárquico, Nanni Moretti
The Shape of Things, Neil Labute
O Americano, Anton Corbijn

CINEMATECA, FESTIVAIS, ETC.
Mercado de Futuros, Mercedes Alvarez
Mekong Hotel, Apitchapong
El Sur, Victor Erice


Desde que vivo em Lisboa, este foi o ano em que menos vezes fui à Cinemateca. Isto deve-se sem dúvida à minha preguiça e falta de organização, ambas crescentes, mas também ao facto de a programação deste ano ter sido menos diversificada por causa dos problemas de financiamento que todos conhecemos.
 

Provavelmente por motivos relacionados, 2012 talvez tenha sido o ano em que vi mais DVDs. Aproveitei para ver algumas coisas que tinha perdido em sala noutros anos. Por coincidência ou talvez não, vi e gostei muito de vários filmes em que as personagens estão de algum modo envolvidas numa investigação, como The Ghost Writer, de Polanski, A Toupeira, de Tomas Alfredson, Man on Wire, de James Marsh ou Un étrange voyage, de Alain Cavalier. Associo a estes o filme The Girl with the Dragon Tattoo, de David Fincher. Nestes filmes gostei principalmente da presença de papéis e papelada provavelmente com uma fina película de pó, conversas breves, frustrações triviais, écrans cheios de informação, solidão desesperada em interiores opressivos e passeios ou investidas em paisagens inóspitas – no fundo, o quotidiano de qualquer investigador.





 

Dos filmes que vi em DVD, destaco ainda Le Père de Mes Enfants, o meu filme preferido de Mia Hansen-Love até agora. (Devo dizer, aliás, que fiquei muito contente quando vi a realizadora nesta lista um tanto desequilibrada do Guardian: The 23 best film directors in the world today.)
 




Quanto aos filmes vistos em sala, os meus favoritos, além do de David Fincher, foram, sem dúvida alguma, Le Havre, de Kaurismaki e Moonrise Kingdom, de Wes Anderson. Não sou a maior fã de Wes Anderson (além deste filme, só gostei de The Life Aquatic with Steve Zissou), mas Moonrise Kingdom conquistou-me completamente devido à capacidade de criação de um universo próprio com personagens providas de alguma espessura, em vez de ser só um divertimento decorativo. Em Le Havre gostei da exploração da possibilidade de não acontecerem só coisas más.




Por último, dois casos absolutamente singulares no cinema: Apitchapong e Victor Erice.

Em Mekong Hotel Apitchapong continua a explorar o tempo, ampliando-o de modo brutal, entre o real, o imaginado (do filme que se está a preparar) e as diversas encarnações das personagens e dos actores. Com efeito, a invulgaridade do trabalho sobre o tempo é uma das características que torna O Tio Boonmee tão especial. Apesar de em geral encarar filmes muito longos com alguma resistência, vi os 114 minutos deste filme sem olhar para o relógio uma única vez. (A propósito, em Tabu, de Miguel Gomes, também encontramos uma perspectiva temporal única, esta mais relacionada com a memória.)


Quanto a El Sur, de Victor Erice, acho que é um filme sobre sobre o grande mistério que é a vida dos nossos pais, durante muito tempo as pessoas mais importantes na nossa vida.





Para terminar, o filme mais insuportável do ano: O Cavalo de Turim, de Béla Tarr. A banda sonora epico-apocalíptica expõe o conflito insanável entre a intenção exibicionista de fazer um filme sobre coisas e pessoas simples e pobres, por um lado,  e a ambição autoconsciente de realizar aquilo que se imagina ser uma «obra-prima cinematográfica», por outro. É como tentar fazer Bresson à maneira de Spielberg.  


Nota final: ainda não tive oportunidade de ver o filme Amour, de Michael Haneke, e provavelmente só terei disponibilidade para isso depois do fim do ano. Nesse caso, será tomado em consideração nas listas de 2013. O mesmo é válido para outros filmes que estrearão ainda em 2012, como Holy Motors, que aguardo com expectativa.

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