Gosto muito da carta que que Sá-Carneiro envia a Pessoa a 24 de Agosto de 1915, exposta na sala dedicada a Mário de Sá-Carneiro da exposição Weltliteratur. No estilo extravagante que o caracteriza, Sá-Carneiro revela ali uma lucidez extraordinária não só relativamente à importância que Pessoa terá na literatura portuguesa, mas também ao lugar que ele próprio nela virá a ocupar.
O escritor que descreve a própria obra como «beleza retumbante de destaque e brilho, infinita de espelhos, convulsa de mil cores - muito verniz e muito ouro: teatro de mágicas e apoteoses com rodas de fogo e corpos nus. Medo e sonambulismo, destrambelhos sardónicos cascalhando através de tudo» é capaz de perceber muito antes de todos que Pessoa virá a ser uma espécie de marco de grandeza de uma literatura, o nome que toda a gente terá de pronunciar quando falar de literatura portuguesa: «toda uma civilização é, meu querido Amigo, o que você hoje perturbadoramente se me afigura», «o Prometeu que dentro do seu Mundo Interior de génio arrastaria toda uma nacionalidade: uma raça e uma civilização». E também de compreender que o seu próprio lugar se definirá por relação com Pessoa: «é você a Nação, a Civilização - e eu serei a grande Sala Real, atapetada e multicor - a cetins e esmeraldas - em douraduras e marchetações».
Esta carta é de uma clarividência esmagadora.
O escritor que descreve a própria obra como «beleza retumbante de destaque e brilho, infinita de espelhos, convulsa de mil cores - muito verniz e muito ouro: teatro de mágicas e apoteoses com rodas de fogo e corpos nus. Medo e sonambulismo, destrambelhos sardónicos cascalhando através de tudo» é capaz de perceber muito antes de todos que Pessoa virá a ser uma espécie de marco de grandeza de uma literatura, o nome que toda a gente terá de pronunciar quando falar de literatura portuguesa: «toda uma civilização é, meu querido Amigo, o que você hoje perturbadoramente se me afigura», «o Prometeu que dentro do seu Mundo Interior de génio arrastaria toda uma nacionalidade: uma raça e uma civilização». E também de compreender que o seu próprio lugar se definirá por relação com Pessoa: «é você a Nação, a Civilização - e eu serei a grande Sala Real, atapetada e multicor - a cetins e esmeraldas - em douraduras e marchetações».
Esta carta é de uma clarividência esmagadora.