Encontro uma das opções de casting mais interessantes que me lembro de ter visto em cinema nos últimos tempos na escolha de Kathy Bates para encarnar o papel de Mrs. Helen Givings no filme Revolutionary Road, de Sam Mendes.
Kathy Bates - que em 1991 recebeu o Óscar e o Globo de Ouro para melhor actriz num papel principal enquanto Annie Wilkes, a inesquecível protagonista do filme Misery, realizado por Rob Reiner a partir do romance de Stephen King em que uma fã psicopata sequestra o escritor preferido para o obrigar a escrever aquilo que ela quer - desempenha, em Revolutionary Road, o papel de uma vendedora imobiliária com um discurso pejado dos lugares-comuns habituais ao contexto social que marca o filme.
No filme, a inadequação à realidade do discurso e do comportamento da vendedora imobiliária de Revolutionary Road está evidente para quem a quiser perceber (na personagem do filho, doutorado em matemática mas a receber tratamento psiquiátrico relacionado com electrochoques, no carácter apagado e passivo do marido, no modo como o que percebemos daquele universo parece escapar a tudo o que ela diz sobre ele), mas a simples presença física de Kathy Bates contribui para acentuar o quanto há de perturbador numa personagem aparentemente tão convencional e tão integrada.
Vale sempre a pena chamar a atenção para estas personagens que persistem em encarnar e defender um modo de vida ideal e desajustado, apesar de quase tudo o que se passa em torno delas indiciar que estão erradas. É importante reflectir sobre o papel delas, mesmo quando parecem secundárias. Quem estiver atento verá que é ali que reside o rosto mais puro do terror.
Kathy Bates - que em 1991 recebeu o Óscar e o Globo de Ouro para melhor actriz num papel principal enquanto Annie Wilkes, a inesquecível protagonista do filme Misery, realizado por Rob Reiner a partir do romance de Stephen King em que uma fã psicopata sequestra o escritor preferido para o obrigar a escrever aquilo que ela quer - desempenha, em Revolutionary Road, o papel de uma vendedora imobiliária com um discurso pejado dos lugares-comuns habituais ao contexto social que marca o filme.
No filme, a inadequação à realidade do discurso e do comportamento da vendedora imobiliária de Revolutionary Road está evidente para quem a quiser perceber (na personagem do filho, doutorado em matemática mas a receber tratamento psiquiátrico relacionado com electrochoques, no carácter apagado e passivo do marido, no modo como o que percebemos daquele universo parece escapar a tudo o que ela diz sobre ele), mas a simples presença física de Kathy Bates contribui para acentuar o quanto há de perturbador numa personagem aparentemente tão convencional e tão integrada.
Vale sempre a pena chamar a atenção para estas personagens que persistem em encarnar e defender um modo de vida ideal e desajustado, apesar de quase tudo o que se passa em torno delas indiciar que estão erradas. É importante reflectir sobre o papel delas, mesmo quando parecem secundárias. Quem estiver atento verá que é ali que reside o rosto mais puro do terror.