«I too am not a bit tamed, I too am untranslatable» (Walt Whitman) | setadespedida@yahoo.co.uk
domingo, 31 de julho de 2016
O Cinéfilo Preguiçoso em Julho
terça-feira, 26 de julho de 2016
Podcasts de Verão
Quando
está muito calor, ouço podcasts, por se tratar de uma atividade que exige um
esforço físico mínimo. (Embora se possa ouvi-los enquanto se faz outras coisas
– conduzir, cozinhar, trabalhar, etc.)
Em vez da
lista tradicional com sugestões de leituras de Verão, numa noite em que não conseguia dormir lembrei-me de fazer uma
lista com os episódios de que mais gostei durante o primeiro semestre de 2016.
Diga-se
de passagem que não é uma lista muito representativa. Enquanto ouvinte, procuro
principalmente temas que me interessam (livros, artes visuais, cinema e música)
e não conheço bem programas sobre outros temas, embora acredite que possa haver
coisas interessantes.
Entre os
podcasts sobre os temas referidos, costumo preferir aqueles que me inspiram
ideias novas ou me deixam a pensar de modo diferente sobre assuntos em que já
penso habitualmente. Além disso, prefiro podcasts com conversas bem preparadas
(isto é, que não se reduzem a tagarelice bem-disposta – para isso já temos as
conversas de todos os dias ou até posts como este). Um monólogo inicial sobre assuntos variados
(como em Entitled Opinions, Other People with Brad Listi ou The Bret Easton
Ellis Podcast) pode funcionar bem.
Ouço de
vez em quando um podcast português (Biblioteca de Bolso, graças ao qual foi
possível ter acesso a esta conversa excelente com Gonçalo M. Tavares). Não sigo outros
podcasts portugueses – não por partir do princípio de que não prestam, mas por
ainda não conhecer bem o que existe. (É mais fácil encontrar recomendações
sobre podcasts estrangeiros, pelo menos nas publicações que costumo ler.)
Às vezes,
alguns podcasts surpreendem-nos. Não basta termos um entrevistador inteligente
e culto a conversar com alguém excepcional. Com frequência, alguém que
pensávamos ser um pouco superficial diz coisas inesquecíveis, enquanto uma
pessoa que admiramos nos faz dormir. Já ouvi entrevistas apaixonantes com
escritores que não tenho vontade de ler e conversas para esquecer com autores
que admiro. O episódio em que Robert Harrison entrevista Marylinne Robinson é
penoso, mas ninguém que tenha lido algum livro da autora duvidará de que ela é um
dos maiores escritores americanos de sempre. Em contraste, Alain de Botton é um
escritor sofrível, mas tem uma conversa interessantíssima com Debbie Millman no podcast
Design Matters.
Em
contrapartida, até ao momento ainda não ouvi uma única entrevista com o
compositor Nico Muhly que tenha achado desinteressante; gosto do que compõe e
do que diz.
Duas
conversas inspiradoras com Nico Muhly:
- A Phone
Call from Paul (primeira parte, segunda).
Conversas
interessantes com escritores que conheço mal e ainda não tenho vontade de
conhecer mais a fundo:
- Eileen Myles (poeta);
- Max Porter (autor de Grief Is the Thing with Feathers);
- Lina Meruane (autora de Seeing Red).
Conversas divertidas com realizadores de que gosto:
Discussões
inteligentes sobre temas em que costumo pensar:
-
tradução de livros; ver também esta conversa com Tim Parks;
- o que publicar numa revista (neste caso, de música).
Em suma, no universo dos
podcasts são possíveis pelo menos estas hipóteses: pessoas maravilhosas que não
dizem coisas interessantes; pessoas desinteressantes que dizem coisas
maravilhosas; pessoas geniais que dizem coisas geniais; pessoas banais que só
dizem banalidades; pessoas que não conhecemos mas ficamos com vontade conhecer;
pessoas que não conhecemos nem queremos conhecer. (Há mais variações, mas estas
já dão uma ideia.)
terça-feira, 12 de julho de 2016
Valeria Bruni-Tedeschi
Vejo
uma curta-metragem de uma escola de cinema que tem como prtagonistas uma
Valeria Bruni-Tedeschi e uma Emanuelle Devos ainda adolescentes ou pelo menos
muito jovens.
Emanuelle
Devos continua igual ao que era então. No filme, Valeria, no entanto, tem
feições adolescentes, muito ameninadas e angelicais, mais ligeiras do que
aquelas que a caracterizam agora. Surpreendentemente, no entanto, nessa altura adoptava
uma voz mais grave e pausada do que nos filmes mais recentes, onde fala mais
depressa e de modo mais juvenil e apalhaçado.
Quando
Valeria Bruni-Tedeschi era adolescente, fingia ter voz adulta. Na meia-idade,
recupera a voz adolescente.
Impressões, impressoras
Alex Katz
Farto de
problemas com o scanner, B. quer comprar uma impressora nova.
A
impressora antiga tem cerca de dez anos. Durante esse período imprimi
os diversos rascunhos das minhas teses de mestrado e doutoramento.
Quando esta
impressora imprime, tem de se ficar junto a ela para evitar que encrave e/ou
atire as páginas ao chão. Vou sentir falta das pausas em que mudava de centro
de atenção, passsando de assuntos abstractos até às lágrimas para questões
eminentemente práticas.
Com uma
certa nostalgia, recordo os momentos em que, umas vezes em desespero, noutras
secretamente aliviada, tive de, perante o olhar pouco impressionado dos gatos,
parar de trabalhar para extrair do interior da máquina páginas amarfanhadas e
manchadas de tinta, por vezes em pedacinhos arrancados com pinça.
Esta
impressora, na verdade, equivalia a duas: quando comprámos a primeira,
constatámos que o scanner deixava umas zonas escuras; a loja entregou-nos uma
máquina nova, mas deixou-nos ficar com a primeira, que ainda hoje continua
dentro de um armário, para recorrermos a ela em caso de emergência, se a
segunda avariar. Quando a impressora nova chegar, B. deixa-me ficar com a
segunda, mas teremos de nos livrar da primeira – da impressora secreta,
arrumada no escuro, aquela que nos salvaria a vida, se fosse necessário.
Mange ta soupe
Depois de encomendar três livros na Amazon, desenvolvi e partilhei com B. o plano de cada um de nós identificar vinte e cinco livros dispensáveis, para depois nos livrarmos deles. O primeiro passo seria arranjarmos uma caixa.
B. disse
que tínhamos de pensar também no que fazer com esta caixa; caso contrário,
estaríamos apenas a mudar os livros de lugar.
A seguir,
B. saiu para a Feira do Livro, onde comprou mais quatro livros.
Dar cabo da vida
«Dr Weiss, at forty, knew that her life had been
ruined by literature.»
(A Start in Life, Anita Brookner)
(A Start in Life, Anita Brookner)
Já me
interroguei algumas vezes sobre como seria a minha vida se não me interessasse
por ler.
Teria,
sem dúvida, uma profissão diferente – não sei bem qual. (Agricultura?
Bordados?)
Talvez
até vivesse numa cidade diferente. Pensamento inquietante, seria possível,
inclusivamente, residir numa aldeia – numa quinta em lugar isolado, protegida
por cães grandes. Usaria chapéu e interessar-me-ia por culinária e botânica
aplicada.
Parece-me
também seguro dizer que teria mais tempo livre. Que faria então com esse tempo
livre? Talvez frequentasse mais o cabeleireiro e até o ginásio. Talvez ir ao cabeleireiro
e ao ginásio pudessem tornar-se os meus únicos desejos, as minhas preocupações
mais queridas.
Se
tivesse de escrever alguma coisa – um recado para o carteiro, um email de
protesto a propósito de uma encomenda incompleta – , não me incomodaria com as minhas frases mal
construídas, mas fingiria sempre importar-me com as dos outros.
Seria
saudável. Teria menos alergias.
Subscrever:
Mensagens (Atom)